Eu morava num décimo andar, numa rua do Catete. Estava escrevendo à máquina, aí peguei uma folha de rascunhos, amassei, fui à janela e joguei a bola de papel lá embaixo. Um gesto mal-educado, confesso, mas o texto estava tão ruim que eu perdi a paciência. A bola descreveu uma curva, levada pelo vento, aí ricocheteou na carroceria de um caminhão parado em frente à loja de móveis, e entrou pela janela de uma camionete que passava a toda velocidade.
Pronto! Lá se foi o cara, com meu artigo amassado dentro do carro.
Qual a probabilidade matemática de que isto acontecesse de propósito? Um tanto remota. Poderíamos reconstituir a cena interditando a rua, pedindo ao cara da camionete que ficasse passando ali àquela velocidade, enquanto eu, lá de cima atiraria bolas e mais bolas de papel tentando acertar o caminhão na hora exata, etc.
São muitas as variáveis envolvidas: o ângulo e a força do arremesso inicial, a direção e a força do vento, o ângulo e o ponto exato da “tabela” na carroceria do caminhão, a passagem da camionete no ponto certo e no momento exato, etc.
Mas se a gente dispusesse de uma verba da NASA ou do CNPq seria possível, ao longo de semanas, de meses, ir chegando a um controle cada vez maior de cada uma dessas fases, até conseguirmos mais arremessos certos do que errados.
É assim que a ciência resolve problemas de ordem prática. Na engenharia, na astronáutica, na medicina, seja lá onde fôr, o sujeito tem pela frente um problema tão complicado quanto este (geralmente muito mais) e é preciso ir “cercando”, fase por fase, tentando eliminar as variáveis não-essenciais, e reduzir ao máximo a variabilidade de outras.
É por isso que muitos problemas teóricos, para simplificar, usam expressões tipo “em condições normais de temperatura e pressão”, ou “numa superfície ideal, com atrito zero” ou “um corpo em movimento retilíneo e uniforme”: tudo isto serve para eliminar variáveis e adiantar o cálculo. Mas num problema da vida real não se pode eliminar isto por decreto. Tem que encarar.
Não sou da turma triunfalista que acha que a Ciência pode tudo, mas já se descobriu tanta coisa do mundo físico que, com dinheiro e know-how, pode-se fazer coisas impensáveis há 50 anos.
Mas não se faz tudo que é tecnicamente possível. Quem afunila, fiscaliza e direciona a atividade científica é a possibilidade de lucro social (a cura de doenças) ou de lucro econômico.
Aí voltamos ao início: será que a NASA ou o CNPq estariam dispostos a gastar essa grana toda só para saber como acertar uma bola de papel dentro dum carro? Não. Pode-se descobrir um método engenheirístico para isso; mas não há utilidade social, não há interesse político em descobrir.
Agora, se fôr para mandar uma nave à Lua, ou para extrair petróleo do fundo do mar... é muitíssimo mais difícil, vai dar muitíssimo mais trabalho, vai custar incrivelmente mais caro, mas vale a pena. Por isso fizemos.
Pronto! Lá se foi o cara, com meu artigo amassado dentro do carro.
Qual a probabilidade matemática de que isto acontecesse de propósito? Um tanto remota. Poderíamos reconstituir a cena interditando a rua, pedindo ao cara da camionete que ficasse passando ali àquela velocidade, enquanto eu, lá de cima atiraria bolas e mais bolas de papel tentando acertar o caminhão na hora exata, etc.
São muitas as variáveis envolvidas: o ângulo e a força do arremesso inicial, a direção e a força do vento, o ângulo e o ponto exato da “tabela” na carroceria do caminhão, a passagem da camionete no ponto certo e no momento exato, etc.
Mas se a gente dispusesse de uma verba da NASA ou do CNPq seria possível, ao longo de semanas, de meses, ir chegando a um controle cada vez maior de cada uma dessas fases, até conseguirmos mais arremessos certos do que errados.
É assim que a ciência resolve problemas de ordem prática. Na engenharia, na astronáutica, na medicina, seja lá onde fôr, o sujeito tem pela frente um problema tão complicado quanto este (geralmente muito mais) e é preciso ir “cercando”, fase por fase, tentando eliminar as variáveis não-essenciais, e reduzir ao máximo a variabilidade de outras.
É por isso que muitos problemas teóricos, para simplificar, usam expressões tipo “em condições normais de temperatura e pressão”, ou “numa superfície ideal, com atrito zero” ou “um corpo em movimento retilíneo e uniforme”: tudo isto serve para eliminar variáveis e adiantar o cálculo. Mas num problema da vida real não se pode eliminar isto por decreto. Tem que encarar.
Não sou da turma triunfalista que acha que a Ciência pode tudo, mas já se descobriu tanta coisa do mundo físico que, com dinheiro e know-how, pode-se fazer coisas impensáveis há 50 anos.
Mas não se faz tudo que é tecnicamente possível. Quem afunila, fiscaliza e direciona a atividade científica é a possibilidade de lucro social (a cura de doenças) ou de lucro econômico.
Aí voltamos ao início: será que a NASA ou o CNPq estariam dispostos a gastar essa grana toda só para saber como acertar uma bola de papel dentro dum carro? Não. Pode-se descobrir um método engenheirístico para isso; mas não há utilidade social, não há interesse político em descobrir.
Agora, se fôr para mandar uma nave à Lua, ou para extrair petróleo do fundo do mar... é muitíssimo mais difícil, vai dar muitíssimo mais trabalho, vai custar incrivelmente mais caro, mas vale a pena. Por isso fizemos.
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