Um “house-name”, no jargão editorial, é um autor fictício cujo nome é criado por uma “casa”, ou seja, por uma editora. Não se trata exatamente de um pseudônimo, porque o pseudônimo pertence a um autor. O house-name é uma espécie de marca que pertence à editora, a qual compra por preço fixo textos de autores diversos e os publica sob aquela assinatura fictícia. É um procedimento muito usado no universo da literatura policial, de ficção científica, de terror. Por que? Em primeiro lugar, por motivos financeiros. Autores que fornecem textos para house-names recebem um preço fixo, geralmente irrisório, e não têm mais nenhum direito autoral relativo àquele texto.
Outro motivo é o fato de que, no auge das revistas populares nos anos 30-40, às vezes era necessário produzir quantidades industriais de texto para as aventuras de um herói, por exemplo. Todas as aventuras deste herói seriam atribuídas a um Fulano fictício, e diversos autores se revezariam escrevendo-as. Casos típicos disto, na literatura policial, são as 325 histórias d´O Sombra (do famoso slogan: “Quem sabe o Mal que se oculta no coração dos homens? O Sombra sabe!”), sempre assinadas por “Maxwell Grant”, nome imaginário por trás do qual se escondiam Walter Gibson (autor da maioria das histórias), Theodore Tinsley, Bruce Eliot e Lester Dent. Também famoso (e traduzido no Brasil, nos “pulp magazines” da época) era o Detetive Fantasma, o milionário-justiceiro Richard Curtis Van Loan, cujas aventuras eram assinadas por “Robert Wallace”, e escritas por um exército de 14 autores.
O house-name, embora seja estritamente uma prática de mercado editorial, é mais um exemplo de um fenômeno a que já me referi (“A lenda de Zé Limeira”, 19 de outubro) como a tendência a agregar História a um nome por um processo de cristalização mítica. Não deve ter sido muito diferente o que aconteceu com os poemas atribuídos a Homero, que decerto não era um house-name, mas seria um “nation-name”, um nome-nação, um nome-povo. Criado pela tradição oral de uma cultura e considerado tão real, dentro dela, quanto o mulá Nasrudin na cultura muçulmana. Inventa-se um nome, que pode até ser o de um sujeito em carne e osso, e todo mundo passa a inventar histórias atribuídas a ele. Usamos isto com autores, e também com personagens. Não é assim que, no Nordeste, vem se expandindo a lenda de Seu Lunga (Seu Lunguinha, Seu Mandurinha, Seu Mandury, e outras variantes)? Não importa o nome que lhe dêem neste ou naquele Estado, é sempre o mesmo velho ranzinza, impaciente, “pôpeiro”, que ao ouvir a menor pergunta tem uma reação irritada e totalmente desproporcional. Um autor pode ser tão fictício quanto um personagem. Eu não me surpreenderia se aparecessem provas de que Sócrates, por exemplo, nunca existiu, era apenas uma ficção coletiva de um grupo de filósofos gregos, os quais lhe atribuíam histórias que, por motivos políticos, não gostariam de assinar.
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