Carl Gustav Jung criou o termo “sincronicidade” para designar coincidências que têm uma significação psíquica especial e que parecem ir além dos limites da mera probabilidade.
Sugiro o termo “cine-cronicidade” para aquelas ocasiões em que filmes vistos de maneira aleatória, acabam tendo uma cena, ou uma frase, ou um núcleo temático em comum – algo que jamais nos ocorreria lembrar se nos perguntassem “o que os filmes X e Y têm em comum?”
Dois destes, que vi há pouco, são Janela indiscreta de Alfred Hitchcock (1954) e A hora do lobo de Ingmar Bergman (1968). Cada qual à sua maneira, estes filmes me lembraram um famoso epigrama cheio de ternura e ironia do argentino Ernesto Sábato:
“Enquanto o mundo fôr mundo, haverá um homem que se preocupa com o Universo enquanto sua casa pega fogo, e uma mulher que se preocupa com sua casa enquanto o Universo pega fogo.”
Não acho que se possa condensar numa cápsula menor que esta a contradição notável entre o temperamento masculino e o feminino. (Aproveito para insistir que nada disso é biologicamente determinado: temperamento masculino e feminino são conjuntos de padrões culturais que assimilamos e imitamos, conscientemente ou não).
Os homens vivem num mundo à parte, um mundo cheio de visões, suposições, hipóteses, experiências mentais que parecem ser mais reais para eles do que a poltrona onde estão sentados ou o pijama que vestem.
Quer ver, pergunte a um matemático o que é mais real: o teorema de Pitágoras ou os vizinhos do andar de cima?
Há na mente masculina uma compulsão permanente de se deixar arrebatar por uma idéia, uma teoria, uma obsessão puramente cerebral que as mulheres acham (de acordo com o momento e seu estado de espírito) assustadora, idiota, sinal de infantilidade encruada ou de senilidade precoce.
As mulheres (lembrem-se, estou trabalhando com abstrações, generalizações), por sua vez, acham que comer a refeição fumegante que acaba de ser posta na mesa é mais importante do que saber se o Universo está em contração ou em expansão. O centro do seu mundo são elas. O centro de um homem é o mundo.
Deformações culturais, sem dúvida; mas é tão belo quando vemos Liv Ullman, com seus olhos calados e súplices, fazendo companhia ao marido que tem que passar a noite em claro para não ficar vulnerável aos monstros que o assaltam.
É tão bonito quando vemos Grace Kelly, com sua elegância de Park Avenue, pular a janela de um possível assassino apenas pela disposição em embarcar na viagem mental do homem que ama.
Em ambos os casos, elas abrem mão de seu confortável senso de realidade para mergulhar num pesadelo masculino que não lhes diz respeito e quase as arrasta para a morte.
Será que é, também, próprio das mulheres essa espécie de amor altruísta, capaz de fazê-las abandonar a tranquilidade de sua casa para pular num Universo que está pegando fogo? Será que são mesmo capazes de mergulhar sem volta num poço sem fundo, apenas para saber em que é que “ele” está pensando?
Sugiro o termo “cine-cronicidade” para aquelas ocasiões em que filmes vistos de maneira aleatória, acabam tendo uma cena, ou uma frase, ou um núcleo temático em comum – algo que jamais nos ocorreria lembrar se nos perguntassem “o que os filmes X e Y têm em comum?”
Dois destes, que vi há pouco, são Janela indiscreta de Alfred Hitchcock (1954) e A hora do lobo de Ingmar Bergman (1968). Cada qual à sua maneira, estes filmes me lembraram um famoso epigrama cheio de ternura e ironia do argentino Ernesto Sábato:
“Enquanto o mundo fôr mundo, haverá um homem que se preocupa com o Universo enquanto sua casa pega fogo, e uma mulher que se preocupa com sua casa enquanto o Universo pega fogo.”
Não acho que se possa condensar numa cápsula menor que esta a contradição notável entre o temperamento masculino e o feminino. (Aproveito para insistir que nada disso é biologicamente determinado: temperamento masculino e feminino são conjuntos de padrões culturais que assimilamos e imitamos, conscientemente ou não).
Os homens vivem num mundo à parte, um mundo cheio de visões, suposições, hipóteses, experiências mentais que parecem ser mais reais para eles do que a poltrona onde estão sentados ou o pijama que vestem.
Quer ver, pergunte a um matemático o que é mais real: o teorema de Pitágoras ou os vizinhos do andar de cima?
Há na mente masculina uma compulsão permanente de se deixar arrebatar por uma idéia, uma teoria, uma obsessão puramente cerebral que as mulheres acham (de acordo com o momento e seu estado de espírito) assustadora, idiota, sinal de infantilidade encruada ou de senilidade precoce.
As mulheres (lembrem-se, estou trabalhando com abstrações, generalizações), por sua vez, acham que comer a refeição fumegante que acaba de ser posta na mesa é mais importante do que saber se o Universo está em contração ou em expansão. O centro do seu mundo são elas. O centro de um homem é o mundo.
Deformações culturais, sem dúvida; mas é tão belo quando vemos Liv Ullman, com seus olhos calados e súplices, fazendo companhia ao marido que tem que passar a noite em claro para não ficar vulnerável aos monstros que o assaltam.
É tão bonito quando vemos Grace Kelly, com sua elegância de Park Avenue, pular a janela de um possível assassino apenas pela disposição em embarcar na viagem mental do homem que ama.
Em ambos os casos, elas abrem mão de seu confortável senso de realidade para mergulhar num pesadelo masculino que não lhes diz respeito e quase as arrasta para a morte.
Será que é, também, próprio das mulheres essa espécie de amor altruísta, capaz de fazê-las abandonar a tranquilidade de sua casa para pular num Universo que está pegando fogo? Será que são mesmo capazes de mergulhar sem volta num poço sem fundo, apenas para saber em que é que “ele” está pensando?
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