(William Blake, "O Dragão Vermelho e a Mulher Vestida de Sol")
Uma guerra cósmica acontece neste momento nas ruas de Miami. O palácio de Deus foi destruído por uma ofensiva maciça dos demônios, e Deus desapareceu, deixando a Terra entregue a um batalhão de anjos que tentam proteger os humanos, especialmente os menores abandonados que dormem pelas calçadas. Um dos demônios mais ameaçadores é a “Bloody Mary”: uma criatura aterradora, com órbitas vazias que gotejam sangue negro. Ela persegue as crianças, auxiliada por demônios menores que usam numerosos portais para alcançar nosso mundo: geladeiras abandonadas, espelhos, e jipes Cherokees com vidros fumê. Num caso bem documentado, Satã, disfarçado de turista rico, foi surpreendido por um grupo de anjos perto de Ocean Drive: eles o agarraram e o prenderam no fundo do rio. No mesmo instante, as águas do rio ficaram vermelhas, e chifres brotaram da cabeça de Satã.
Crianças de seis, oito, dez anos de idade são as únicas testemunhas desse Armagedon invisível. Elas contam as mesmas histórias, mesmo pertencendo a grupos que nunca tiveram contato direto uns com os outros, grupos espalhados por cidades como New Orleans, Chicago e Oakland (Califórnia). Em todas estas cidades funcionam abrigos mantidos pelo Exército da Salvação, e os pesquisadores que entrevistam essas crianças têm registrado a presença das mesmas histórias, dos mesmos eventos, até da mesma terminologia. Por exemplo, as crianças sempre se referem às criaturas sobrenaturais como “espíritos” e nunca como “fantasmas”.
Para os antropólogos que pesquisam a propagação das Lendas Urbanas, o termo “poligênese” designa o surgimento simultâneo de histórias fora do comum e semelhantes, em lugares distantes. A mitologia dos meninos de rua de Miami (onde a pesquisa se concentra) usa, por exemplo, imagens extraídas do folclore mexicano: eles também dão à Bloody Mary o nome de “La Llorona”, “a chorona”, um fantasma tradicional da Cidade do México, a mulher que assassinou os próprios filhos ao ser desprezada pelo amante. Outros pesquisadores vêem traços de Iemanjá na imagem da “Blue Lady”, um espírito feminino protetor, vestido de azul, que “é linda, boa, inteligente, vive no mar, e só aparece para as crianças.”
As crianças afirmam que a guerra está quase perdida. O céu não mais existe, e a melhor sorte para quem morre é ir morar no acampamento dos Anjos, numa floresta nas proximidades de Miami, mas é preciso depositar no túmulo da pessoa um pedaço de folha de palmeira, que serve como salvo-conduto. As crianças dizem que, mesmo assim, é preciso não desesperar, pois existe um exército angelical vindo em seu socorro. A escritora Virginia Hamilton observa que essas crianças se sentem com a responsabilidade de responder às mais terríveis das perguntas: “Por que ficar do lado do Bem, quando vemos o Mal vencendo de ponta a ponta? E se eu for morto, como posso fazer com que minha vida tenha alguma importância, mesmo depois que eu não exista mais?”
Crianças de seis, oito, dez anos de idade são as únicas testemunhas desse Armagedon invisível. Elas contam as mesmas histórias, mesmo pertencendo a grupos que nunca tiveram contato direto uns com os outros, grupos espalhados por cidades como New Orleans, Chicago e Oakland (Califórnia). Em todas estas cidades funcionam abrigos mantidos pelo Exército da Salvação, e os pesquisadores que entrevistam essas crianças têm registrado a presença das mesmas histórias, dos mesmos eventos, até da mesma terminologia. Por exemplo, as crianças sempre se referem às criaturas sobrenaturais como “espíritos” e nunca como “fantasmas”.
Para os antropólogos que pesquisam a propagação das Lendas Urbanas, o termo “poligênese” designa o surgimento simultâneo de histórias fora do comum e semelhantes, em lugares distantes. A mitologia dos meninos de rua de Miami (onde a pesquisa se concentra) usa, por exemplo, imagens extraídas do folclore mexicano: eles também dão à Bloody Mary o nome de “La Llorona”, “a chorona”, um fantasma tradicional da Cidade do México, a mulher que assassinou os próprios filhos ao ser desprezada pelo amante. Outros pesquisadores vêem traços de Iemanjá na imagem da “Blue Lady”, um espírito feminino protetor, vestido de azul, que “é linda, boa, inteligente, vive no mar, e só aparece para as crianças.”
As crianças afirmam que a guerra está quase perdida. O céu não mais existe, e a melhor sorte para quem morre é ir morar no acampamento dos Anjos, numa floresta nas proximidades de Miami, mas é preciso depositar no túmulo da pessoa um pedaço de folha de palmeira, que serve como salvo-conduto. As crianças dizem que, mesmo assim, é preciso não desesperar, pois existe um exército angelical vindo em seu socorro. A escritora Virginia Hamilton observa que essas crianças se sentem com a responsabilidade de responder às mais terríveis das perguntas: “Por que ficar do lado do Bem, quando vemos o Mal vencendo de ponta a ponta? E se eu for morto, como posso fazer com que minha vida tenha alguma importância, mesmo depois que eu não exista mais?”
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