O que leva rapazes nascidos e criados na Zona Sul do Rio de Janeiro (ou em seu equivalente em qualquer metrópole), rapazes que têm acesso a qualquer tipo de música internacional, rapazes expostos a todo tipo de modismo da imprensa, a se voltar para o forró nordestino, uma música esnobada por tanta gente? Parece um contra-senso, e vendo esses grupos do que hoje se chama Forró Universitário tenho a sensação de estar diante de um oxímoro sociológico, um paradoxo, uma contradição. É um pouco como ver heavy-metal com letras evangélicas.
Nenhum deles faz “forró universitário” para ficar rico, ou para atingir o mercado internacional. Acredito que eles fazem porque gostam. Poderiam estar ouvindo e imitando qualquer banda internacional que esteja em evidência, mas passam tardes inteiras ouvindo CDs de Jackson do Pandeiro ou de Luiz Gonzaga, tirando harmonias, e acostumando-se com o vocabulário estranho daquelas letras. Já ouvi muitos dos CDs que produzem; alguns são bons, outros são bem fraquinhos (poética e musicalmente), mas em todos eles eu vejo uma pureza de intenções que sinceramente não consigo ver na maioria das bandas de forró superproduzido que tocam em trios elétricos e a rigor não se distinguem das bandas de lambada ou axé.
O Forró Universitário exprime um desejo, que tenho percebido nesse pessoal com 20-e-poucos anos, de conhecer a vida rural, a música rural, a visão do mundo rural. É algo que retorna ciclicamente, e cada vez com mais força; desde que nos anos 70 Sá & Guarabira inventaram o conceito de “rock rural”. O forró universitário obedece ao mesmo impulso. A rapaziada está de saco cheio do shopping, da buate, do automóvel, do rock, da praia. Querem embrenhar-se mato adentro, tomar banho de rio, acampar, ouvir passarinho cantando, aprender a assar batata na fogueira, pedir um caneco dágua na casinhola do matuto, ouvir “causos” e ponteados de viola. São rapazes e moças com uma tendência riponga que nunca vai desaparecer; a esta altura, o Projeto Genoma já deve ter identificado o gene responsável pelo modo-de-ser “bicho grilo”.
Isto tem ganho uma importância maior nas últimas décadas, quando o Brasil deixou de ser um país rural e tornou-se urbano. Não sei os números do IBGE, mas fala-se que cerca de 70% de nossa população está nas cidades. E a neurose urbana acaba pegando. Há uma rapaziada que vê no mundo rural um universo mais simples, mais sincero, de valores mais humanos; e vê no forró uma expressão legítima deste mundo. Os rapazes querem usar alpercatas, e não tênis Nike; as moças querem saiona de pano fino, e não as mini-saias de griffe. Não querem ir à Disney ou a Miami: querem andar de barco no rio São Francisco, querem conhecer a Chapada dos Guimarães. Não são, a rigor, herdeiros de Gonzagão e Jackson. São os herdeiros eternos de Janis Joplin, do Grateful Dead e de Crosby, Sills, Nash & Young. Que o Deus do mato os guie e os proteja, pois estão precisando.
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Um comentário:
Ao meu ver, o forró universitário nada mais é que um forró com linguagem jovem. A idéia de fazer um som própio com base no que tem de mais importante e mais relevante dentro do seguimento nordestino cultural e artistico, o forró autêntico(Luiz Gonzaga entre outros). Retrata a paixão pela musica e a relação do ser humano com a parte pobre e sofrida do nosso pais. Poder expressar todo sentimento de amor a arte e ao sertão, mostrar a dor do matuto sertanejo, do trabalhador do campo que apesar das adversidades impostas pelas condições de muitas questões políticas conseguem sorrir, sorrisos verdadeiro de felicidade. Forró é paixão viva dentro do peito de qualquer homem do mato, de qualquer pessoa da capital, de qualquer ser capaz de se emocionar com a beleza da vida. Ser hulmilde e levar amor, paz e alegria sempre conosco. Sempre haverá musica para todos os gostos, para todas ás classes e religiões. Cada um com o que se identifica mais. Assim sou eu, um morderno arcaico, conservador e inovador, apaixonado por musica de qualidade e na esperança que um dia todos possam respeitar os estilos musicais.
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