Santo Agostinho, interrogado sobre o que era o Tempo, disse algo como (cito de memória):
“Na verdade, ao que parece existe apenas o Presente. Porque o Passado não passa da lembrança presente de um fato passado; e o Futuro não passa da visualização presente de uma possibilidade futura”.
Os termos empregados pelo santo-filósofo não foram bem estes, mas acho que a intenção é esta, e se ofendi ao filósofo espero que pelo menos o santo me perdoe.
Há um outro raciocínio de Santo Agostinho que, modéstia à parte, também me ocorreu certa vez. Como definir o Presente? Digamos que é o dia de hoje. Mas se estou às 3 horas da tarde, como posso dizer que este dia inteiro é o Presente? Porque 15 horas já transcorreram desde a meia-noite passada, e isto então é Passado; e ainda faltam cerca de 9 horas para chegar o dia seguinte, e é óbvio que estas horas estão situadas no Futuro.
Se considero como Presente “a presente hora”, o mesmo raciocínio se aplica aos minutos em que ela se divide, e nessa pisada seríamos forçados a definir o Presente como um instante infinitesimal e indivisível de tempo, um micro-instante de Presente puro, sem nenhum restinho de Passado e nenhuma beirinha de Futuro.
Não é esta, contudo, a nossa experiência intuitiva do mundo. Experimentamos continuamente o Passado e o Futuro através dos estímulos sensoriais que recebemos. Mesmo ao dizer “está chovendo”, não queremos nos referir à chuva que caiu naquele microssegundo específico.
Este presente contínuo de “está chovendo” é contaminado pelo Passado e pelo Futuro. Queremos dizer que choveu até este segundo, e que tudo indica que no próximo segundo a chuva continuará a cair.
O Presente é uma reação mental provocado pelo impacto do mundo sobre nossos sentidos. No mundo físico existe uma “seta” implacável, que geralmente lemos de duas maneiras: a) nós vimos do Passado e estamos indo na direção do Futuro, ou, b) os acontecimentos estão vindo do Futuro, passam por nós, e desaparecem no Passado.
O Presente é uma criação nossa, uma leitura nossa do que os nossos sentidos percebem. Nossa mente é um torvelinho onde se misturam as coisas que acabaram de acontecer, e as que achamos que irão acontecer em seguida; é uma salada contínua de passado e futuro, de memórias e expectativas, e a essa salada chamamos Presente.
O Passado e o Futuro são o mundo. O Presente sou eu.
O Presente inclui minha experiência factual de Passado, e minha experiência virtual de Futuro.
E proponho (se não para o leitor, pelo menos para mim mesmo, que ando precisado) a seguinte definição de Tempo:
O Passado é o tempo que nunca me pertenceu, é tudo aquilo que ocorreu antes do meu nascimento. O Presente é tudo que começou a ocorrer desde então, é todo o período a que me refiro quando digo: “No meu tempo...” E o Futuro é o tempo que nunca me pertencerá, é tudo que irá ocorrer após o instante da minha morte.
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