quinta-feira, 21 de maio de 2009

1043) As piores frases do mundo (20.7.2006)


(Sir Edward Bulwer-Lytton)

Todos os anos, reservo um fim-de-semana inteiro para rir até encher os olhos de lágrimas. É quando saem os resultados do “Concurso Bulwer-Lytton de Ficção”, que anualmente premia os piores começos-de-livro enviados por leitores. O Concurso tem este nome em homenagem a Sir Edward Bulwer-Lytton, o autor de Os Últimos Dias de Pompéia, que num dia de inspiração excepcional e num vislumbre de genialidade começou assim um romance: “Era uma noite escura e tempestuosa...” (“It was a dark and stormy night”). Esta frasezinha brilhante, aliás, foi popularizada por Charles Schulz em sua tirinha “Peanuts”: o cachorro Snoopy a reescreve incansavelmente em sua máquina, tentando ser um escritor-de-verdade. Note-se que as pessoas inscrevem no Concurso frases premeditadamente ruins. (Seria interessante ter um concurso semelhante que analisasse frases efetivamente incluídas em livros, frases que os autores julgam suficientemente boas para serem publicadas).

A frase premiada este ano é de Jim Guigli, da Califórnia. Ele propôs iniciar um romance policial da seguinte forma: “Detective Bart Lasiter was in his office studying the light from his one small window falling on his super burrito when the door swung open to reveal a woman whose body said you've had your last burrito for a while, whose face said angels did exist, and whose eyes said she could make you dig your own grave and lick the shovel clean” (“O detetive Bart Lasiter estava em seu escritório examinando a luz de sua única pequena janela que se projetava sobre seu burrito [prato texano] quando a porta abriu-se de par em par para revelar uma mulher cujo corpo dizia que você vai parar de comer burritos por algum tempo, cujo rosto dizia que anjos existem, sim, e cujos olhos diziam que você pode se preparar para cavar sua própria cova e lamber a pá no fim”).

Não é fácil traduzir textos muito ruins à altura, como não o é traduzir textos muito bons. O que é muito ruim depende de combinações excepcionais de som e sentido, uso inadequado de termos, incoerência sintática ou semântica, raciocínio confuso, metáforas misturadas, e de coisas difíceis de reproduzir, como “kitsch”, mau-gosto, brega, etc.

Veja outras pérolas do concurso em: http://www.sjsu.edu/depts/english/2006.htm. O saite mantém um arquivo completo de todos os concursos. Aspirantes a escritor podem lucrar muito com estes exemplos. Em geral, ensina-se alguma atividade artística dando preferência aos exemplos positivos (estudar e copiar a obra de Renoir, Beethoven, Graciliano). Os exemplos negativos podem ser igualmente úteis, até porque estão muito mais próximos daquilo que o principiante costuma produzir. O ensino de literatura deveria se parecer ao ensino de esportes, onde um técnico competente dedica às vezes semanas inteiras à correção de um defeito do seu time (posicionamento da defesa numa cobrança de falta, etc.)

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