Me desculpe quem tiver achado plebeu demais esse termo usado
no título. Num dos clubes a que pertenço é assim que se designa colisão de
veículos, quando são duas pessoas de verdade falando. Quando o cara se dirige a
um público invisível ou indiferenciado, diz colisão de veículos.
O termo
completo em inglês é Party Crash, que poderia ser traduzido como “Festa da
Barruada”, mas quem o está utilizando é Chuck Palahniuk, o mesmo cara que
escreveu Clube da Luta, sua história mais conhecida.
Este livro é de 2007 e chama-se Rant. Numa época
imprecisa, grupos de desocupados ou de aventureiros meio existencialistas passam a noite num incessante “pega” de automóveis. Cada grupo em seu carro, eles
passam a noite inteira batendo uns nos outros, obedecendo a um complicado
sistema de regras, penalidades e premiações simbólicas de variada natureza.
Palahniuk aqui está usando parachoques como se fossem punhos, e tratando como
iguais rosto humano e lataria.
A subcultura barruadeira dessa turma lembra a sensação de
vício virtual produzida por algumas horas de jogar Grand Theft Auto (GTA),
sacolejando por aquelas ruas tão verazes, capazes de seduzir e convencer o
olho, se bem que não o corpo inteiro.
A perseguição, em Rant, pode ter algo
de Bullitt ou Operação França, pode ser algo galhofeiro e despropositado
como qualquer invenção maluca dos irmãos Coen ou de Tarantino; pode mostrar a
promiscuidade fria e entomológica de J. G. Ballard e de David Cronenberg no
livro e no filme Crash.
Existe uma mini-humanidade completa no universos desses
folguedos sobre quatro rodas, que lembram Halloween, galera que dá
cavalo-de-pau na multidão. A subcultura
deles é constantemente alimentada por uma estação de rádio que descreve, com
detalhes incômodos, os ferimentos sofridos pelas pessoas que acabam de sofrer
acidente de carro em algum ponto da rodovia.
Uma rádio que todos ligam, mas que, ao contrário do DJ negro em Vanishing Point de Richard Sarafian, age de forma impessoal e cuidadosamente
planejada. Uma equivalente dos “Globocops” em geral, que mistura o
sensacionalismo explícito dos tablóides populares e o ar sem-frescuras,
direto-ao-ponto, da moça que recita as previsões da meteorologia.
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