terça-feira, 19 de maio de 2009

1038) Syd Barrett, diamante louco (14.7.2006)


(Syd Barrett)

A história do rock registra as grandes vítimas dos excessos de drogas dos anos 60-70: Jimi Hendrix, Jim Morrison, Janis Joplin. Uma de suas vítimas mais talentosas foi Syd Barrett, cujo nome é pouco citado, talvez pelo fato de que uma parte dele morreu entre 1967 e 1968, e a outra na última sexta-feira, 7 de julho de 2006. Barrett, um dos fundadores da banda Pink Floyd, foi um guitarrista de talento, e compôs quase todas as canções do álbum The Piper at the Gates of Dawn. Drogas psicodélicas e uma prévia instabilidade mental o deixaram mais doidão do que até mesmo uma banda de rock comporta. Quando seu comportamento no palco e no estúdio tornou-se inviável, foi substituído por seu amigo David Gilmour.

A banda aposentou Barrett mas vê-se que havia uma ligação afetiva muito forte entre eles. Os direitos autorais de Barrett continuaram a ser escrupulosamente pagos, e o Pink Floyd chegou a produzir em 1970 dois discos (The Madcap Laughs e Barrett) em que Barrett, alternando momentos de psicose e de lucidez, era capaz de compor, tocar, cantar, acompanhado por Gilmour e outros amigos. Diz-se que o personagem neurótico e depressivo interpretado por Bob Geldorf no filme Pink Floyd: The Wall é em grande parte inspirado em Barrett. A banda lhe dedicou uma canção, “Shine On Your Crazy Diamond” (“Brilhe, diamante louco”) em seu álbum Wish You Were Here (“Gostaria que você estivesse aqui”), de 1975.

As fotos de época mostram um rosto pálido, olhos intensos e meio desarvorados, uma cabeleira negra e revolta. Ao morrer agora, com 60 anos, Barrett estava gordo, cabeça raspada, sofria de câncer e diabetes. Morava sozinho numa casa de subúrbio, vigiado pela irmã que morava a poucas casas de distância. Não era “um doido”; comportava-se mais como um senhor excêntrico e caladão, que não conversava com ninguém, mas conseguia cuidar de si, da casa, das flores do jardim.

O Pink Floyd sobreviveu à perda de Barrett, seu membro mais talentoso, assim como os Rolling Stones sobreviveram à perda de Brian Jones, seu melhor músico. A lenda em torno de Barrett nunca parou de crescer, e agora, com sua morte, promete recrudescer. O jornal The Guardian montou uma página de links relacionados a ele, que pode ser acessada em: http://arts.guardian.co.uk/features/story/0,,1817966,00.html.

Já vi alguém se queixar de que a cultura do rock celebra os drogados, os “heróis que morrem de overdose”, e que isto é uma má influência sobre a juventude. Pode até ser, mas somente por um erro de interpretação. O que celebramos é o talento, o brilho mental de jovens que mesmo tendo morrido com 20 e poucos anos deixam uma obra notável, cuja qualidade intensifica a dor da perda e a grandeza da tragédia. As canções de Barrett nos deixam o gosto nostálgico do que poderia ter sido sua vida se não tivesse “morrido” antes dos 30 anos. É como chorar por Castro Alves ou Noel Rosa.

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