domingo, 15 de fevereiro de 2009

0804) O ano milagroso de Einstein (15.10.2005)



Em 2005 estamos comemorando o centenário do que o mundo científico acostumou-se a chamar de “annus mirabilis”, “ano milagroso”, ou , mais precisamente, “ano das maravilhas”. Em 1905 Albert Einstein publicou na principal revista alemã de Física quatro artigos científicos nos quais propunha novas explicações para alguns dos problemas que a Física da época não estava conseguindo resolver. Estes quatro artigos fizeram história; viraram a Física de pernas para o ar.

O primeiro deles, abordando o problema chamado de “efeito fotoelétrico”, sugeria que a luz era constituída de “quanta” (plural do latim “quantum”), minúsculas partículas. Na época, vigorava a noção de que a lua consistia em ondas. Depois de Einstein, chegou-se ao consenso de definir a luz como tendo uma natureza dupla, com propriedades tanto de onda como de partículas. O segundo artigo se referia ao “movimento browniano”, a descrição do movimento de minúsculas partículas suspensas num fluido. Aplicando estas leis, Einstein propôs uma visão plausível do mundo dos átomos, baseada na mecânica estatística.

O terceiro artigo questionava as noções vigentes sobre a velocidade da luz, e propunha a “Teoria da Relatividade Especial”, onde a velocidade da luz é um limite fixo, e não depende da velocidade do observador – ou seja, somar velocidades, o que era previsto na mecânica de Newton, não funciona com a velocidade da luz. O quarto artigo estabelecia a famosa equivalência entre matéria e energia, uma idéia surpreendente para a época; nele apareceu pela primeira vez a famosa equação “E=mc2”, energia igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz.

Pois é, tudo isto está completando cem anos agora, e o websaite científico “Nova” tem um extenso material a respeito, baseado num programa de TV que está indo ao ar na Europa. Vejam em: http://www.pbs.org/wgbh/nova/einstein/. O que sempre me chamou a atenção neste episódio foi o fato de no curto espaço de alguns meses um sujeito descobrir quatro coisas diferentes e inéditas. “Vai ver,” pensava eu, “que é por isso mesmo que o cara é gênio; descobre quatro coisas que não têm nada a ver”. Ledo engano meu. Einstein era um físico nato, com uma enorme capacidade de generalização. Ele conseguia perceber intuitivamente o que havia em comum entre a velocidade da luz, a dualidade da luz como onda e partícula, o movimento caótico das partículas atômicas, a relação entre matéria e energia. Creio que se pode dizer que onde os físicos da época viam problemas distintos, Einstein mostrou que estes problemas eram portas contíguas para uma única solução.

Einstein ficou até o fim da vida procurando inutilmente a famosa “Teoria do Campo Unificado”, uma única explicação matemática para todas as forças fundamentais do Universo. Não conseguiu. Mas também é ambição demais, o sujeito querer derrotar a Esfinge duas vezes seguidas.

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