(Katrina)
As mulheres acham que é preconceito nosso, essa história de batizar furacões com nomes femininos. Os caras mais gozadores explicam por quê: os furacões sempre chegam quando a gente não está esperando, arrasam com tudo, é inútil tentar argumentar com eles, etc e tal. Na verdade, o costume antigo era dar aos furacões o nome do santo do dia em que ele ocorria, mas como furacões duram vários dias e atingem diferentes cidades, isso causava divergências: o mesmo furacão recebia mais de um nome.
Na década de 1950, os nomes começaram a ser atribuídos de acordo com um alfabeto fonético, e os primeiros furacões assim nomeados foram Able, Baker e Charlie. Com o passar dos anos, isto começou também a criar confusão, porque ao começar um novo ano retomava-se a lista do princípio, então o problema passou a ser o mesmo nome sendo atribuídos a furacões diferentes. Em 1953, o Centro Nacional de Furacões dos EUA criou uma lista de nomes femininos por ordem alfabética, que iam sendo sucessivamente atribuídos à medida que as tempestades apareciam. O primeiro nome a ser usado neste sistema foi Alice. Houve protestos, e a partir de 1978 nomes masculinos foram adicionados à lista de furacões tanto do Pacífico quanto do Atlântico.
O sistema atual tem listas de nome (masculinos e femininos) que são concedidos por ordem alfabética. São seis listas ao todo, cada uma delas usada num ano, de modo que os nomes dos furacões só se repetem de seis em seis anos. Em setembro de 2005, restavam apenas quatro letras: Stan, Tammy, Vince e Wilma. (Algumas letras, como Q, U, X, Y e Z, não são usadas, porque têm poucos nomes próprios associados a elas). Se por acaso a quantidade de furacões for maior do que a quantidade de nomes, os furacões seguintes passarão a receber os nomes de letras gregas:
Por que isto tudo? Os meteorologistas explicam que há certas especificações: os nomes devem poder ser lembrados com facilidade, e precisam vir em ordem alfabética para serem situados facilmente uns em relação aos outros. Convenhamos, é muito mais fácil decorar um nome como “Furacão Katrina” do que, sei lá, Furacão NWS-11-05.
Numa camada mais profunda, no entanto, isto corresponde ao animismo latente em nossa cultura. Somos descendentes de centenas de gerações de pessoas que acreditavam em espíritos da natureza, em orixás, em ninfas e náiades. Para esta mentalidade mágica, os fenômenos da Natureza são manifestações de uma intencionalidade, de uma vontade cujas razões só podemos imaginar, mas cuja eficácia na ação não deixa margem a dúvidas. Se colocamos um nome numa montanha ou num rio, por que não num furacão, que embora sendo um fenômeno passageiro acaba talvez marcando nossas vidas de maneira muito mais intensa? O uso exclusivo dos nomes femininos teve origem, sem dúvida, nesta nossa identificação intuitiva entre a mulher e as forças desencadeadas da Natureza, que são impossíveis de enfrentar, e das quais às vezes não dá nem para fugir.
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