Se pegássemos o dinheiro que já investimos em Informática e o direcionássemos, digamos, para “Aprendizado da Linguagem dos Macacos”, já estaríamos conversando com eles tão fluentemente quanto conversamos com certos computadores, levando em conta as limitações de cada um.
Uma escritor ingênuo de Ficção Científica pode fantasiar que os macacos começariam a nos dar lições de filosofia e de humanismo, a nos revelar ângulos insuspeitados do nosso mundo. Duvido muito. Pode ser preconceito, mas acho que os macacos são ainda mais tapados do que nós.
Uma linguagem em comum, no entanto, abriria uma possibilidade fascinante. Poderíamos aplicar neles uma lavagem cerebral equivalente à que aplicamos em nós mesmos, e torná-los excelentes operários. Não precisaríamos recorrer à massificação ideológica, como no 1984 de Orwell, nem à manipulação biológica, como no Admirável Mundo Novo de Huxley. Teríamos apenas que criar um dicionário compartilhado de idéias e instruções.
De posse disto, poderíamos ensinar-lhes tarefas essenciais: pedreiro, carpinteiro, carregador, lavador de pratos, lavador de roupas, mecânico de automóveis, lixeiro, lavrador...
Teríamos de induzi-los à obediência, mas é justamente esta a especialidade de nossa civilização: produzir alucinações motivacionais nas pessoas. Uma parte da verba iria para o Departamento de Teleologia, onde marketólogos, filósofos e lingüistas trabalhariam juntos na criação de uma ideologia qualquer (religiosa, política, científica...) para traduzir o mundo em linguagem simiesca.
Ser-lhes-ia explicado por a+b que cabe aos humanos o terrível fardo de administrar o mundo, com todas as preocupações e responsabilidades que isto acarreta; e cabe aos símios a cômoda função de apenas obedecer ordens e executar instruções durante 8 horas por dia, e divertir-se no restante. Quanto quer de aposta como eles acabariam acreditando?
Macacos e tarefas, há de todo tipo. Dizem que o chimpanzé é o mais inteligente; poderíamos ensinar-lhe ofícios que exigissem iniciativa, desenvoltura, coordenação motora. Consta que os gorilas são um pouco mais broncos, mas poderiam virar segurança de buate, guarda-costas, estivador, etc.
Claro que usar tais ajudantes iria exigir também um aprendizado de nossa parte. Teríamos, talvez, que aprender algo como as linguagens de sinais usadas por surdos-mudos ou por operadores da Bolsa de Valores. Ou teríamos que decorar um vocabulário-base de 50 ou 100 grunhidos, para dizer coisas como “Kingkong, troca rapidinho esse pneu, enquanto eu tomo banho”, ou “Chita, varre a calçada.”
Uma nova Idade de Ouro se descortinaria diante da Humanidade. É só pegar no laço esses bilhões de desocupados, que não fazem outra coisa senão comer bananas ou saltar nos cipós, e ensinar-lhes a obediência, a higiene pessoal, o catecismo, a tabuada, o valor do trabalho e a importância da honradez. Pode ser que desta vez dê certo.
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