Já li e manuseei muito a edição de Richard Wilhelm (Editora Pensamento) do I-Ching, o livro chinês das transmutações. Ele e o Tao Te King – o Livro do Caminho Perfeito de Lao Tsé são duas portas para a mais plausível descrição religiosa do universo em que vivemos.
Isto não faz de mim um taoísta. Taoísta é quem acredita nessas coisas, e eu tenho dificuldade de acreditar seja no que fôr, eu apenas comparo teorias e acho que umas são mais plausíveis, mais eficazes do que as outras.
A maioria das religiões tem deuses demasiado antropomórficos, contaminados de emoções humanas. Deuses que se enfurecem conosco, que nos amam com filhos, que nos condenam a torturas horrorosas, que nos perdoam sem explicação, que perdem o controle por dá cá aquela palha... Deuses humanos, demasiado humanos.
Em vez dessa relação folhetinesca, melodramática, o I-Ching, através dos seus 64 hexagramas, reproduz uma seqüência de fluxos, de movimentos que me parecem corresponder a ciclos secretos do Universo, da natureza viva, da existência humana. Como? Não sei, é pura intuição (e esse álibi de “pura intuição” é, quem sabe, uma confissão velada de fé).
Eu gostaria de ver um filme de animação em que os 64 hexagramas de sucedessem na tela, para ver ali o que vejo quando os examino um por um: as linhas partidas que sobem, linhas inteiras que descem, ou vice-versa, movimentos de expansão e contração, ciclos de madurez e definhamento, ciclos de força atuante e de recolhimento contemplativo. As formas das forças que regem o mundo, que fazem o mundo ser tudo o que é.
Joguei o I-Ching algumas vezes, mas deixei de fazê-lo porque senti que estava a incomodá-lo com perguntas fúteis – “será que vou esquecer a letra das músicas, no show de amanhã?...” Também comecei a perceber que o livro continha 64 respostas que se aplicavam a qualquer situação, e que eu podia muito bem, quando precisasse de assessoria sobrenatural, abrir numa página qualquer um livro de Drummond ou de Emily Dickinson, ler, aceitar esse conselho do Acaso.
Disseram-me um dia que as moedas com que se joga o I-Ching devem estar carregadas de nossa energia. Tomei uma decisão, e guardei num bolsinho de dentro da carteira três moedas de 10 centavos. Resolvi que as levaria comigo, junto ao corpo, durante dez anos, e que depois as usaria para jogar o I-Ching.
Passaram-se 5 ou 6 anos, e um dia eu me vi num país estrangeiro, numa situação complicada onde precisava urgentemente dar uns telefonemas. E as únicas moedas ao meu alcance eram as do I-Ching. Fui, voltei, hesitei, maldisse minha estupidez, e acabei usando meus pobres centavos brasileiros para me tirar daquela roubada.
Findas as ligações, resolvido o problema, olhei para o céu, e vi numa nuvem metafórica o velho Confúcio olhando para mim com o polegar erguido, piscando o olho, e dizendo: “E aí, serviu ou não serviu?” Pense num povo prático, esses chineses.
Isto não faz de mim um taoísta. Taoísta é quem acredita nessas coisas, e eu tenho dificuldade de acreditar seja no que fôr, eu apenas comparo teorias e acho que umas são mais plausíveis, mais eficazes do que as outras.
A maioria das religiões tem deuses demasiado antropomórficos, contaminados de emoções humanas. Deuses que se enfurecem conosco, que nos amam com filhos, que nos condenam a torturas horrorosas, que nos perdoam sem explicação, que perdem o controle por dá cá aquela palha... Deuses humanos, demasiado humanos.
Em vez dessa relação folhetinesca, melodramática, o I-Ching, através dos seus 64 hexagramas, reproduz uma seqüência de fluxos, de movimentos que me parecem corresponder a ciclos secretos do Universo, da natureza viva, da existência humana. Como? Não sei, é pura intuição (e esse álibi de “pura intuição” é, quem sabe, uma confissão velada de fé).
Eu gostaria de ver um filme de animação em que os 64 hexagramas de sucedessem na tela, para ver ali o que vejo quando os examino um por um: as linhas partidas que sobem, linhas inteiras que descem, ou vice-versa, movimentos de expansão e contração, ciclos de madurez e definhamento, ciclos de força atuante e de recolhimento contemplativo. As formas das forças que regem o mundo, que fazem o mundo ser tudo o que é.
Joguei o I-Ching algumas vezes, mas deixei de fazê-lo porque senti que estava a incomodá-lo com perguntas fúteis – “será que vou esquecer a letra das músicas, no show de amanhã?...” Também comecei a perceber que o livro continha 64 respostas que se aplicavam a qualquer situação, e que eu podia muito bem, quando precisasse de assessoria sobrenatural, abrir numa página qualquer um livro de Drummond ou de Emily Dickinson, ler, aceitar esse conselho do Acaso.
Disseram-me um dia que as moedas com que se joga o I-Ching devem estar carregadas de nossa energia. Tomei uma decisão, e guardei num bolsinho de dentro da carteira três moedas de 10 centavos. Resolvi que as levaria comigo, junto ao corpo, durante dez anos, e que depois as usaria para jogar o I-Ching.
Passaram-se 5 ou 6 anos, e um dia eu me vi num país estrangeiro, numa situação complicada onde precisava urgentemente dar uns telefonemas. E as únicas moedas ao meu alcance eram as do I-Ching. Fui, voltei, hesitei, maldisse minha estupidez, e acabei usando meus pobres centavos brasileiros para me tirar daquela roubada.
Findas as ligações, resolvido o problema, olhei para o céu, e vi numa nuvem metafórica o velho Confúcio olhando para mim com o polegar erguido, piscando o olho, e dizendo: “E aí, serviu ou não serviu?” Pense num povo prático, esses chineses.
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