quarta-feira, 12 de outubro de 2022

4872) A Super Inteligência artificial (12.10.2022)



A Inteligência Artificial está dando seus primeiros vagidos no mundo da Inteligência Biológica. Uma de suas manifestações em crescente popularidade são os programas online que produzem ilustrações obedecendo a comandos verbais dos usuários. Os propósitos mais secretos ou discretos não posso avaliar daqui, a não ser em termos de Teorias da Conspiração. Vou falar somente da parte lúdica e aberta ao público em geral.
 
Você vai lá no saite, e dá uma instrução verbal (em inglês) dizendo a imagem que você quer. O programa tem uma base de dados de milhões de imagens, que ela busca, reúne e recombina, criando imagens de acordo com o pedido.
 
Se você pede “Carlitos fumando, montado numa bicicleta, em cima dos anéis de Saturno”, ela junta essas informações e faz uma espécie de colagem. O programa simplesmente anota os ingredientes, e os combina da maneira solicitada.
 
O DALL-E é um desses programas. Ao que parece, o nome é uma mistura do desenho animado “WALL-E” com “Salvador Dalí”.
 
Pedi: “A pink camel smoking a pipe” (um camelo cor-de-rosa fumando cachimbo). Recebi o resultado abaixo. (O DALL-E, tipicamente fornece nove opções ligeiramente diferentes entre si.)

 
 
Depois forneci um verso de um poema surrealista meu: “The frozen priest is wandering through mercurial woods” (o padre gelado viaja na floresta mercurial). O resultado é este:

 
Os resultados do Dall-E ainda são tímidos comparados com o Midjourney, que está aberto a estímulos criativos do público desde julho deste ano. Mais sofisticado em termos de qualidade de imagem, o Midjourney oferece vários planos de acesso. O mais simples deles, gratuito, permite um número limitado de consultas por mês. Pagando um caraminguazinho, o leitor tem acesso a mais recursos e número maior de experimentações.
 
Fui lá, por que não? E por uma questão de método científico submeti minhas duas receitazinhas (always in English) ao outro programa. Eis o que o Midjourney me forneceu (tipicamente, ele fornece quatro variantes da imagem sugerida, em vez de nove):
 
Um camelo cor de rosa fumando cachimbo.



O padre gelado viaja na floresta mercurial:



Observem que todas estas minhas imagens, postadas acima, são um mero rascunho. Os programas oferecem a opção de retrabalhar, modificar, aperfeiçoar extensamente cada uma delas. Estou postando aqui apenas para dar uma idéia. Essas imagens podem ficar muito melhores – e se a gente vai lá, principalmente no saite do Midjourney, vê alguns trabalhos que são de cair o queixo.
 
Amigos meus estão dando um banho de criatividade, explorando os recursos do Midjourney, e a frase “desemprego em massa dos ilustradores profissionais” vem sendo murmurada por entre doses de absinto nos bares de todo o Hemisfério.
 
Quando pensamos em Inteligência Artificial, a imagem que nos vem à mente é uma imagem centralizada, personificada, antropomórfica, a imagem meio abstrata de uma Inteligência gigantesca que nos examina, nos conhece a fundo, nos manipula, rege o nosso destino. Essa Inteligência pode ser benigna, e nos ajudar a penetrar num paraíso utópico. E pode ser maligna, e nos mergulhar num inferno de auto-destruição.
 
Digo “paraíso” e “inferno” propositalmente, porque a maior parte das pessoas visualiza a super Inteligência Artificial em termos religiosos, em termos de um deus ou um demônio. Uma criatura com personalidade. Um ser auto-consciente, capaz de sentimentos semelhantes aos sentimentos humanos, e consciente de nossa presença.
 
Eu penso que o que estamos criando não se assemelha a um ser autoconsciente e inteligente. Assemelha-se mais a um conjunto de seres autônomos, mas ligados uns aos outros por laços semelhantes aos da simbiose – que é quando dois seres diferentíssimos se acoplam, cada um extraindo e retribuindo benefícios dessa ligação.
 
A Inteligência Artificial que estamos criando não se assemelha, arquitetonicamente, à Pirâmide de Quéops, uma forma una, centralizada, harmoniosa, completa. É um pouco como a Catedral de Sevilha, que foi construída e destruída ao longo de séculos, é cheia de puxadinhos e de anexos em estilos diferentes – mas funciona.
 
Ela não tem objetivos, a não ser os objetivos míopes e imediatos de cada setor. Enquanto estes setores não entrarem em choque, funcionarão, mesmo com bugs e surtos de precariedade.
 
Uma metáfora frequente para a Inteligência Artificial que foge ao controle é a criação de um programa complexo destinado (digamos) ao plantio de grama. O programa recebe a instrução para plantar grama, e de certo ponto em diante começa a ordenar a destruição de tudo que esteja atrapalhando o plantio de grama, inclusive cidades, fábricas, etc. 



O programa não é “mau”, ele não quer “dominar a Humanidade”, etc.  É simplesmente um processo que fugiu ao controle – como naquela sequência do filme Fantasia (1940) de Walt Disney, sobre música de Paul Dukas, em que Mickey enfeitiça vassouras para conduzirem baldes de água e daí a pouco elas se multiplicam, produzem um caos absoluto, e ele não mais as comanda. As vassouras não são malévolas; apenas começaram a se multiplicar por erro de programação.
 
 
 







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