(foto: Antonio David Diniz)
Por uma dessas simetrias irônicas da vida, neste domingo
dia 13, aniversário de Luiz Gonzaga, nossa música perdeu o grande Zé Calixto,
87 anos, um dos mestres do fole-de-8-baixos do forró nordestino.
Os Calixto (Zé, Luizinho, Bastinho) são uma linhagem de
músicos talentosos e populares. Conhecendo a eles e à sua obra não é difícil
entender o "caldo cultural" de onde emergiram figuras hoje
internacionalmente famosas como Sivuca e Hermeto Paschoal.
Uma vez, nos anos 1990, fui convidado para cantar meus
martelos numa coletiva de músicos nordestinos no Circo Voador do Rio. Estava
nos bastidores, no meio de dezenas de figuras, conversando com Zé Calixto,
quando se aproxima uma figura leonina de cabelos e barbas quase brancos:
"Você é Zé Calixto? Meu nome é Hermeto Paschoal, e sou seu maior fã.”
Presenciei assim o que imagino ter sido o primeiro papo
pra-valer entre esses dois reis do teclado.
Teclado é um modo de dizer, porque o fole de oito baixos
usa botões, como as “gaitas” gaúchas. E tem como principal característica
técnica o fato de que, quando se aperta um botão, “abrir o fole” produz uma
nota musical, enquanto que “fechar o fole”, apertando o mesmo botão, produz
outra. Na sanfona convencional, o acordeom, tudo é muito mais simples – a nota
musical é a mesma, não importa em que direção a gente puxe ou empurre o fole.
O fole-de-8-baixos é um instrumentozinho invocado,
pequeno, difícil, rico de recursos. Como dizia Dominguinhos, com uma
gargalhada: “A vantagem dele é que é mais leve...”
“O nêgo agora tá gordo que parece um major... É uma casemira lascada, um dinheiro danado... Enricou!... Tá rico!... Pelos cálculos que eu fiz, ele deve possuir pra mais de dez contos de réis. Sanfonona grande danada... 120 baixos. É muito baixo. Eu nem sei pra que tanto baixo, porque arreparando bem ele só toca em dois! Januário não. O fole de Januário tem 8 baixos, mas ele toca em todos oito.”
Quem quiser se aprofundar no estudo dele não tem porta de
entrada melhor do que o livro de Léo Rugero,
Com Respeito aos oito baixos – Um estudo etnomusicológico sobre o estilo
nordestino da sanfona de oito baixos (“Prêmio Produção Crítica em Música”, Funarte,
2012 / Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 2013).
Léo Rugero, paulista criado no Rio
de Janeiro, pesquisador musical da UFRJ, mergulhou nessa colônia nordestina de sanfoneiros e puxadores de
fole, produzindo este livro repleto de informações preciosas, e um documentário
homônimo que pode ser visto na web.
O blog de Rugero, Sanfona de 8 Baixos, pode ser acessado aqui:
“A volta do sanfoneiro” (Philips, 1961)
Nascido em 1933 em Lagoa Seca, na época pertencente ao
município de Campina Grande, Zé Calixto foi filho de tocador, tal como
aconteceu com Luiz Gonzaga, e desde pequeno acompanhava o pai nos bailes rurais
onde este tocava. Mudou-se para o Rio em 1960 e conseguiu sua primeira gravação
intermediado pelo compositor Antonio Barros, outro recém-chegado naquela imensa
leva pós-Gonzaga, pós-Jackson do Pandeiro, quando os estúdios cariocas ficaram
repletos de tocadores, cantores e ritmistas gravando discos modestos que
vendiam como água.
Aqui, um programa da TV Paraíba, em duas partes, criação de Rômulo
Azevedo, onde Zé Calixto conta com o bom humor de sempre a sua odisséia
nordestina:
“A Paraíba e Seus Artistas” (Rômulo Azevedo)Parte 1:Parte 2:
Dominguinhos + Luizinho Calixto:
Um comentário:
Bráulio como sempre cirúrgico com as palavras, eu costumo brincar dizendo que a santíssima trindade dos 8 baixos é formada por: Zé Calixto, Abidias, e Geraldo Correria
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