É um lugar comum dos estudos críticos sobre o romance
policial invocar os nomes ilustres que a ele se dedicaram, que lhe deram uma
importância maior do que a que lhes era atribuída pelos críticos de sua época.
Nomes como W. H. Auden, Jorge Luís Borges, Vladimir Nabokov, Guimarães Rosa e
muitos outros eram leitores atentos de histórias de detetive. A esta lista veio
se somar T. S. Eliot. De acordo com um artigo de Paul Grimstad em The New
Yorker (http://tinyurl.com/zgsssq5), a
publicação de The Complete Prose of T. S. Eliot, pela Johns Hopkins University
Press, recuperou um grande número de resenhas que ele publicou anonimamente no
jornal The Criterion, em 1927. O sisudo poeta não apenas comenta os livros que
lia, como cede à tentação de propor regras para esse tipo de literatura.
Não deixa de ser curiosa a adição do seu nome a essa lista.
Eliot era o mais inglês dos norte-americanos. Essa dupla filiação espiritual e
literária está presente também em grandes nomes do romance detetivesco, com
Raymond Chandler e John Dickson Carr à frente, norte-americanos que viveram na
Inglaterra. O fato dos ingleses verem essa literatura com respeito deve pesar.
Chandler sempre se queixou de que nos EUA era visto como um simples autor de
histórias de detetive, ao passo que na Inglaterra era tratado de igual para
igual por romancistas de primeira linha.
Foi Eliot quem considerou The Moonstone (1868) de Wilkie
Collins “o primeiro, o mais longo e o melhor romance de detetive inglês”. Para
ele, “a personalidade e as motivações do criminoso deveriam ser normais”, e a
história não deveria “basear-se nem em fenômenos ocultos nem em descobertas
feitas por cientistas solitários”. Eliot, como a maior parte dos bons autores policiais
da época, defendia o fair play, ou seja, o autor deveria indicar ao leitor as
principais pistas que revelavam a identidade do criminoso e o método usado para
praticar o crime. É bom lembrar que na chamada Era de Ouro do romance policial
(as décadas de 1920-1930) o enorme sucesso do gênero atraiu para ele autores
que não tinham o menor escrúpulo de puxar o tapete de baixo dos pés do leitor
da maneira mais desavergonhada possível.
Por que tanto sucesso? Eliot dizia: “Aqueles que viveram
antes da criação de termos como ‘literatura elevada’, ‘romances
sensacionalistas’ e ‘ficção detetivesca’ sabem que o melodrama exerce uma
perene fascinação sobre o público leitor”. Para ele, um romance policial mal
sucedido era o que deixava de satisfazer duas necessidades: “o prazer puramente
intelectual de Poe e a completude e abundância de vida que há em Wilkie
Collins”.
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