Esse termo indica os detetives durões do romance policial, mas não traduz bem para o português. A idéia se refere a ovos muito cozidos, que ficam muito duros. Passa a sensação de dureza (=valentia, violência, brabeza) e de algo ou alguém fervido, castigado, curtido pela vida. Aqueles detetives de sobretudo e chapéu mole interpretados por Robert Mitchum, ou então os policiais durões e silenciosos de Richard Widmark.
O detetive não é “hardboiled” somente porque pode recorrer à
violência. Isso Sherlock Holmes também fazia. A diferença entre os dois é que
Holmes, tido como tão frio e objetivo, é no fundo um romântico que acredita na
Razão e um otimista que tem fé na Ciência.
Um detetive hardboiled não acredita sequer na autenticidade da nota de
vinte que uma loura artificial lhe estende. É o cinismo que os separa. O Zeigeist
da era do “sendo assim fica permitido tudo, cada um por si”.
Philip Marlowe é durão, mas não somente por dar uns safanões
em bandidos metidos a besta. Ele vive com a vida por um fio, e só tem de
poderoso para protegê-lo a letra da Lei. A mesma lei que ele atropela, quando,
pelo bem do cliente, ele suprime provas, mexe na cena do crime, confunde
indícios, omite informações. Ele sabe que pisa terreno minado, e os policiais
sabem do que ele anda fazendo. Só querem
uma chance para flagrá-lo, a pretexto de uma tecnicalidade qualquer, e depois fazê-lo
cumprir uma turnê de insônias ao longo de mil delegacias, enquanto puderem
fazê-lo de modo quase legal.
É um personagem que vive num mundo pior do que o nosso, pois
nele acontecem coisas que não fazem parte do nosso dia a dia, razão pela qual
lemos esses livros, vemos TV, compramos jornais sensacionalistas. Em O Longo
Adeus, diz Marlowe:
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