Cap. 1 – De como Alma Loser brotou pronta dos pés à
cabeça, aos quinze anos, no Colégio Municipal Lima Barreto, em Conceição da
Macuruí (Bahia), onde até então estava disfarçada de Maria Almarina da Rocha,
filha de um caminhoneiro e de uma doméstica.
Cap. 2 – De como Alma dizia que essa expressão
“doméstica” lhe provocava arrepios de repulsa, e que se tivesse que escolher
entre a profissão do pai e a da mãe preferiria mil vezes ser caminhoneira,
mesmo correndo o risco de assalto e surra de vez em quando, destino eventual do
pai dela.
Cap. 3 – De como nome
e personagem nasceram juntos quando Maria Almarina resolveu aceitar o convite
para tocar baixo na banda feminina “OB Usado”, arregimentada para participar da
festa dos Jogos Estudantis da escola, sob o nome de Las Bambas, é claro, porque
o nome oficial enfartaria a diretora, uma chata.
Cap. 4 – De como uma
vaia ensurdecedora afugentou do palco a banda, e Alma Loser rasgou furiosa o
figurino, arrombou um locker, fugiu com o moleton de alguém e nunca mais a
viram, nem no Lima Barreto nem em casa, onde ficou o casal de velhos, que mal
deram pela sua falta.
Cap. 5 – De como na
capital Alma Loser aprendeu russo com um vizinho de pensão, ascensorista de um
hotel todo em ébanos e dourados.
Cap. 6 – De como Alma
Loser perdeu vários empregos sucessivos até descobrir que russo no currículo
queimava seu filme.
Cap. 7 – De como Alma
Loser cruzou por acaso com um primo distante e machista, daqueles que sempre
botaram olho ruim pra cima dela, mas família é família, mas como ela agora não
era mais família coisa nenhuma, pensou ele, botando um olho bonito, ela ia ver
o que é bom pra tosse.
Cap. 8 – De como as
coisas não correram bem assim, e Alma Loser aplicou-lhe uma combinação de
krav-magá que aprendera com o útil ascensorista e o deixou desacordado para
pagar na manhã seguinte os estragos que fizeram na suite do motel.
Cap. 9 – De como Alma
Loser juntou as economias, tomou um banho de loja, prendeu o cabelo, e foi
admitida como flight attendant (ela detestava “aeromoça”) numa companhia aérea
terceirizada.
Cap. 10 – De como um
ano e meio depois ela desembarcou em São Petersburgo , seu objetivo desde o início, e
lá mesmo queimou o passaporte e caiu na clandestinidade.
Cap. 11 – De como
encontramos Alma Loser onze anos depois em Moscou, dona de butique, passaporte
ucraniano, gorda como uma baronesa, falando francês, amante de dois políticos
de partidos rivais, sendo entrevistada num talk-show da TV local e, indagada
sobre o sonho da sua vida, dando um fundo suspiro e respondendo: “Conhecer o
Brasil, porque dizem que é um país de homens lindos.”
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