sexta-feira, 22 de março de 2013

3140) Groucho Marx (22.3.2013)




(Groucho e seu neto Andy)


Li esse episódio no saite BoingBoing de Cory Doctorow. (Em: http://bit.ly/Y8yOeS) O autor é Andy Marx, neto de Groucho Marx, que em 1973 era estudante de cinema e costumava de vez em quando almoçar na casa do avô, em Beverly Hills. No dia em questão, estavam lá, visitando Groucho, os atores Elliot Gould e Jack Nicholson e o mímico Marcel Marceau. A certa altura, tocou o telefone e o neto foi atender. Era um cara do depósito-galpão da NBC. Eles tinham lá algumas caixas de filme em 16mm contendo os programas You Bet Your Life (1947-1961) que tinha Groucho como apresentador. “Precisamos abrir espaço no galpão, e se quiserem os rolos de filme deixaremos na sua casa. Se não, eles serão incinerados”.

Andy pediu que esperasse e foi contar ao avô, que, grouchianamente, respondeu: “Podem queimar aquela porcaria, não vale nada”. Nicholson e os outros intervieram dizendo que era importante salvar o programa, etc. E foi dada a ordem: “Tragam os rolos”. Dias depois Andy estava em casa e recebeu um telefonema do avô, furioso: “Venha ver o resultado da sua idiotice!”. Ele foi lá e viu cinco caminhões parados, e dezenas de funcionários descarregando caixas e mais caixas. Um motorista o informou de que havia 500 caixas, cada uma com 10 rolos de filme. A mansão de Groucho ficou abarrotada de caixas até o teto, numa cena que inevitavelmente parecia extraída de um filme dos irmãos Marx.

O fato é que o programa foi salvo e Andy, que tinha 20 e poucos anos, foi contratado para revisar, anotar e fichar rolo por rolo, ganhando 150 dólares por semana (“Eu teria PAGO isso a eles para poder fazer o serviço”, confessa ele.) E os programas (fui checar na Wikipedia: foram 528 episódios em 16 temporadas) foram reexibidos e hoje podem ser vistos pelo Netflix (nos EUA, pelo menos). O que conduz o autor do artigo a uma reflexão final: “Que sorte ter sido eu a atender aquele telefonema, e não meu avô”.

Muitos de nós já passamos por situações semelhantes. Eu defendo, por exemplo, que o arquivo do Diário da Borborema, ameaçado de destruição ou de expatriamento, seja mantido em Campina Grande. Mas não sei o que faria se me dissessem: “Está OK, entregaremos tudo amanhã, no seu apartamento”. O problema não é que sejamos hipócritas, é que a preservação da memória cultural, que tanto defendemos, exige espaço físico, funcionários, cuidados, climatização, manutenção. Nenhum de nós tem uma mansão para abarrotar de caixas. Sabemos apenas que essa preservação é necessária. Preservar o passado dá tanto trabalho quanto produzir o presente, e muitas vezes um dos dois é sacrificado pelo bem do outro.



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