Dias
atrás mais uma tempestade de inverno atingiu os Estados Unidos. A imprensa a
chamou de Nemo. Um nome aparentemente adequado, por ter ressonâncias marítimas:
o capitão Nemo de 20 Mil Léguas Submarinas, o peixinho de Procurando Nemo. Muita gente, porém, reclamou desse nome,
porque ao que parece não é costume dar nome a tempestades de inverno. É uma
dessas tecnicalidades divertidas do mundo da burocracia científica.
Segundo
o saite Terra, “apesar de a tempestade estar sendo chamada de Nemo por vários
veículos da mídia americana, o nome não é oficial, mas sim uma criação da
emissora Weather Channel, o que gerou uma polêmica nas mídias sociais e entre
alguns jornalistas. ‘Nós não estamos usando esse nome arbitrário para a
tempestade’, disse Jason Samenow, do Washington Post; ‘é sem sentido’.
Oficialmente, o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos dá nome a
apenas tempestades tropicais e a furacões. Tempestades de inverno não costumam
receber alcunhas, mas o Weather Channel passou a adotar identificações para
ajudar a alertar os moradores de áreas atingidas e torná-las mais fácil de serem
seguidas, especialmente nas redes sociais”.
Os
meteorólogos devem ter lá suas razões para batizar umas coisas e não batizar
outras. Na verdade, o sistema de nomeação dos furacões tem uma lógica: nomes
próprios por ordem alfabética, para que seja mais fácil situar um furacão em
relação a outro. (Escrevi a respeito aqui: http://bit.ly/Y12qK0).
E damos nomes às coisas pelos mesmos motivos por que damos nomes a nós mesmos.
Imaginem só o problema se nosso amigo José não se chamasse José; teríamos que
ter dezenas de designações diferentes para ele: o filho de Seu Zuca, o filho de
Dona Maria, o irmão de Joana, o menino da casa da esquina, o menino que tem um
cachorro marrom... Um nome enfeixa isto tudo numa fórmula curta e sólida.
Pelo
mesmo motivo inventamos nomes como amor, liberdade, democracia, ética, etc. Não
correspondem a criaturas reais. Se nos pedissem uma definição para qualquer um
desses conceitos teríamos dificuldade em fornecê-la, e mesmo que o
conseguíssemos dificilmente seriam encontradas duas definições iguais. O nome
serve por um lado para tornar nítida uma coisa difusa e por outro lado para sugerir
que várias coisas são uma só por serem chamadas pelo mesmo nome. Sempre que
dizemos “o Brasil” estamos nos referindo, em princípio, a uma entidade geograficamente,
historicamente e politicamente concreta; e também a um fenômeno tão heterogêneo,
tumultuado, contraditório, instável e mutante quanto uma tempestade tropical.
Ou de inverno.
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