sexta-feira, 15 de julho de 2011
2609) Conversando com golfinhos (15.7.2011)
O personagem do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams viaja pelo universo entrando em contato com as raças alienígenas mais diferentes. Como faz para se comunicar com elas? Simples: ele enfia no ouvido um Babel Fish, um peixe que, por razões mais literárias do que científicas, atua como tradutor universal. Quem tem um Babel Fish enfiado no ouvido entende tudo que um alienígena diz (e faz-se entender, quando fala). A solução foi tão luminosamente simples que existe até um websaite de tradução instantânea (ao qual recorro quando preciso) com esse nome. (Ver: http://br.babelfish.yahoo.com/).
É de Douglas Adams (que está para a ficção científica assim como o Monty Python está para o cinema) esta profunda reflexão filosófica: “No planeta Terra, os homens sempre presumiram que eram mais inteligentes do que os golfinhos porque tinham criado inúmeras coisas: a roda, Nova York, as guerras, etc. – enquanto os golfinhos só sabem ficar fazendo bobagem na água e se divertindo. O que acontece é que os golfinhos sempre acreditaram que eram mais inteligentes do que os humanos, pelas mesmíssimas razões”.
Coube a Carl Sagan, que está para a ciência assim como o Prof. Pasquale está para a gramática, observar o seguinte: “É interessante notar que, enquanto alguns golfinhos foram capazes de aprender um pouco de inglês (cerca de 50 palavras, que eles conseguem aplicar nos contextos adequados) até agora nenhum ser humano foi capaz de aprender a falar golfinhês”. Ora, este estado de coisas está a ponto de mudar. A linguagem dos golfinhos, que são a espécie animal mais inteligente logo depois (há controvérsias) do homem, está sendo estudada por pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Georgia (Atlanta). O projeto CHAT (Cetaccean Hearing and Telemetry) desenvolveu um equipamento submarino que registra e analisa os sons emitidos pelos golfinhos. Os golfinhos são espertos. São capazes de obedecer corretamente ordens em inglês com diferenças sutis, como “traga o homem para a prancha” e “traga a prancha para o homem”. (Eu diria que eles entendem mesmo esse troço se obedecessem corretamente a algo como “para o homem a prancha traga”).
A tática dos cientistas é exibir objetos e ações e tentar descobrir quais as palavras que os golfinhos adotam para cada um deles, mas Denise Herzing, do projeto CHAT, admite: “Nem sequer sabemos se os golfinhos usam palavras”. Esta me parece a frase mais inteligente e realista de todo o projeto. “Palavra” é um conceito humano, e nem de longe um recurso universal. As abelhas são capazes de indicar a existência, o tamanho e a direção de uma fonte de alimento apenas “dançando” no ar. (Os linguistas afirmam que a dança das abelhas não constitui uma linguagem, e concordo; mas poderia ser a base para se criar linguagem que não usasse palavras). Talvez os golfinhos usem sons, movimentos e contextos, criando um número de combinações suficiente para suas necessidades de comunicação.
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