segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

0652) O estranho, o bizarro, o inesperado (21.4.2005)


(Charles Fort)

O que aconteceu no ano de 1919 para que ele se tornasse um “anno mirabilis” nos anais da História Secreta do Mundo? Se você não sabe que História é esta, caro leitor, fique tranqüilo, porque eu também não sei, mas tenho algumas pistas. A primeira delas é a existência, na Nova York daquela época, de um homenzinho atarracado, com um bigode frondoso que lhe dava a aparência de “uma foca tímida”, e óculos com aro de metal. Seu passatempo era freqüentar a Biblioteca Municipal e arquivar informações sobre fatos inacreditáveis que saíam em toda a imprensa: chuva de sapos, objetos voadores não identificados, anomalias magnéticas, meteoritos com inscrições, avistamentos de criaturas monstruosas...

O homem se chamava Charles Fort, e em 1919 publicou O Livro dos Danados, o primeiro de vários livros nos quais brandia estes fatos inclassificáveis e desafiava os cientistas a dar-lhes uma explicação convincente. Céticos empedernidos como Martin Gardner (Manias e Crendices em Nome da Ciência) descartam Fort como um mero colecionador de excentricidades, mas autores como Pauwels & Bergier (O despertar dos mágicos) o tratam como o profeta de uma nova mentalidade a que chamam de “Realismo Fantástico”.

Foi também em 1919 que um indivíduo chamado Robert L. Ripley deu início a uma das séries mais bem sucedidas na imprensa americana: Ripley’s Believe It or Not, coletânea semanal de curiosidades, coincidências espantosas, fatos bizarros da História, episódios inexplicáveis, recordes excêntricos. Conhecida no Brasil com o título Acredite... se Quiser, a série saiu dos jornais para os livros e a TV. A série antiga era apresentada pelo ator Jack Palance; a atual, apresentada por Dean Cain e Kelly Packard, é exibida aqui no Rio no Canal Multishow.

O mundo de Fort e de Ripley é o mundo das exceções, das anormalidades, de tudo que não está de acordo com os padrões estatísticos. A Ufologia e a Zoologia Fantástica (histórias de yetis, do monstro do Lago Ness, do Pé-Grande, etc.) não existiriam sem eles. É claro que num mercado tão gigantesco a picaretagem campeia: as fraudes, as falsificações, as invencionices, os logros para atrair a credulidade dos incautos. Mas nos interstícios dessa indústria da mentira vão se colhendo informações que de outra forma jamais chegariam ao conhecimento público. Pode ser uma perda de tempo, concordo, mas há maneiras mais bobas de perder o tempo do que olhando o que é noticiado nos saites do programa de Ripley (http://www.ripleys.com/welcome.html) ou da Sociedade Forteana (http://www.forteantimes.com/) ou ainda no saite de Sérgio Russo sobre Realismo Fantástico, com dezenas de links (http://www.dominiosfantasticos.hpg.ig.com.br/id21.htm). Mas se você é do time dos incrédulos, melhor ainda. O saite que passa-no-rodo essa história toda é o da revista Skeptical Inquirer (http://www.csicop.org/si/online.html).

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