Entre os mandamentos que aprendi com o Budista Tibetano, há um que me consola nos domingos à noite: “Cada vitória, uma comemoração. Cada derrota, uma lição”. Tentarei portanto extrair algo de bom desta derrota que nem precisava ser minha, pois sou Flamengo. Mas torci contra o Fluminense por dever de ofício, e principalmente torci pelo Volta Redonda, pois torcerei sempre por qualquer time do interior contra qualquer time da capital, numa decisão de título. Mesmo que fosse contra o Fla, eu teria preferido a vitória do Voltaço.
A lição que extraio, infelizmente, é uma que eu já sabia desde que nasci: quase todo time que entra para empatar perde. Por que? É um dos mistérios do futebol. Vejam o presente caso. No primeiro jogo da decisão, o Fluminense botou 2x0 com cinco minutos de jogo. A torcida começou a gritar “é campeão”, e o time recuou para garantir o resultado. Diante disto o Voltaço avançou e virou o jogo para 4x2. Achou que estava bom, e aí foi sua vez de recuar. O Flu avançou de novo e marcou mais um gol no finzinho, gol que acabou sendo importante na contagem final.
No segundo jogo, o Voltaço entrou com 4x3 a seu favor (era uma decisão com soma de resultados). Já entrou recuado, portanto, na esperança de conseguir o sonho dourado de 99% dos técnicos e jogadores brasileiros, que é rebater bolas para a lateral durante 90 minutos, sem precisar fazer gol. No primeiro ataque, fez 1x0, ou seja, 5x3. O que fez então? Recuou mais ainda, enquanto era a vez de sua torcida gritar: “é campeão!”. O Fluminense empatou no finzinho do 1o. tempo (gol irregular, aliás), no segundo foi todo pra cima e merecidamente virou pra 3x1, o único placar que lhe interessava. Mas se o jogo durasse mais 10 minutos, tenho certeza de que o Flu ia recuar, o Volta ia avançar, faria 3x2, e ficaria com o título.
Por que essa coisa suicida de recuar, de chamar o adversário para dentro de sua área, de pedir para conceder 20 escanteios num jogo, de pedir para ficar cercado durante 90 minutos, vendo a bola sobrevoar sua pequena área, sofrendo bombardeios, e torcendo para que o adversário erre? A única explicação para isto é que técnicos e jogadores sabem que é mais difícil atacar do que defender. É mais difícil construir do que destruir, fazer do que desmanchar. É mais difícil ser Governo do que ser Oposição, mais difícil ser artista do que ser crítico. No futebol, o erro é mais frequente do que o acerto. Para você fazer um gol é preciso acertar num espaço específico, super-defendido. Para evitar um gol, basta bater na bola em qualquer direção. Ouso imaginar que se neste jogo final o Flu tivesse feito 2x0 (placar que lhe daria o título), teria recuado, e o Volta Redonda, cujo time é coletivamente melhor, teria que ir para cima, “buscar o resultado”. Mesmo com o resultado atravessado aqui, cumprimento o Fluminense. Neste jogo final, fez o que todo time deveria fazer: perseguir o gol, o gol, o gol.
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