Nos livros de capa-e-espada ou de aventuras de cavalaria apareciam com frequência (geralmente numa cena de rua, de feira, cheia de pessoas anônimas) os vendedores de relíquias. Um cacho de cabelo de São Fulano, uma unha de São Sicrano, um retalho do lençol com que São Beltrano se cobria...
As pessoas mais pobres pagavam, apertavam a relíquia de encontro ao peito e saíam tomadas por um otimismo devastador.
Um cronista desabusado comentou:
“Na Europa, nos últimos cinquenta anos, já foram vendidos pedaços da verdadeira cruz de Cristo em tal quantidade que daria para construir com essa madeira uma esquadra inteira de navios. ‘Cravos da verdadeira cruz’ são tão numerosos que dariam para crucificar um país inteiro.”
E no entanto as pessoas compravam, e compram ainda hoje, as relíquias mais diversas. Não me refiro a imagens e símbolos em geral, mas à relíquia de caráter único, que esteve ligada à pessoa do santo de maneira muito próxima ou muito significativa. Ou uma parte do corpo dele.
“Na Europa, nos últimos cinquenta anos, já foram vendidos pedaços da verdadeira cruz de Cristo em tal quantidade que daria para construir com essa madeira uma esquadra inteira de navios. ‘Cravos da verdadeira cruz’ são tão numerosos que dariam para crucificar um país inteiro.”
E no entanto as pessoas compravam, e compram ainda hoje, as relíquias mais diversas. Não me refiro a imagens e símbolos em geral, mas à relíquia de caráter único, que esteve ligada à pessoa do santo de maneira muito próxima ou muito significativa. Ou uma parte do corpo dele.
Curiosamente, a ciência moderna produziu sua própria cultura
de relíquias. Há indivíduos que ao morrer deixam sêmen congelado para poderem
fecundar mulheres cem anos depois de mortos.
Outros deixam amostras de sangue, de cabelo, de tecidos: para que ali se
conserve o seu DNA e, num possível futuro, alguém possa produzir um clone que
seja para eles uma ressurreição parcial.
(Isso funcionaria mais para os descendentes do que para ele. Os bisnetos poderiam se auto-iludir: “Meu bisavô está de volta!”, mas ele saberia que não era o mesmo.)
(Isso funcionaria mais para os descendentes do que para ele. Os bisnetos poderiam se auto-iludir: “Meu bisavô está de volta!”, mas ele saberia que não era o mesmo.)
Recolher DNA de amostras humanas para produzir um clone de
alguém é uma idéia recente, mas quem nos garante que já não estava presente na
antiguidade. Podemos imaginar uma rede
secreta de viajantes no Tempo que eventualmente, no meio dos seus contatos com
os “nativos”, aconselham: “Guardem relíquias das pessoas importantes. Guardem
amostras do sangue num frasco, guardem cabelo, unhas, crânios, tecidos
mumificados, tudo que puder ser preservado, e que seja autenticamente daquela
pessoa. Um dia isso terá utilidade.”
Isso justificaria a piada do sujeito que vê num museu um esqueleto adulto com a placa “Esqueleto de São Francisco” e um esqueleto de criança com a placa “Esqueleto de São Francisco aos cinco anos”. O mercado transdimensional de relíquias está de vento em popa.
Por exemplo, um bilionário russo de outro universo está colecionando esqueletos de Bin Laden.
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