domingo, 18 de julho de 2010
2282) Cobertura de Copa (1.7.2010)
Não, não estou me referindo a apartamentos no andar de cima em Copacabana. É a cobertura jornalística de uma Copa do Mundo, algo que movimenta este país tanto quanto uma eleição presidencial. Como as duas coisas geralmente acontecem juntas, já se sabe nas redações e nas estações de TV: “Ano que vem, tem Copa e eleição”. São duas guerras pacíficas (até certo ponto) para as quais os órgãos de imprensa se mobilizam como se fossem os exércitos aliados preparando o Desembarque na Normandia.
Uma coisa que me incomoda, como espectador, é a quantidade absurda de informação irrelevante que essa situação produz. Toda TV brasileira, toda rádio brasileira, todo jornal brasileiro tenta mandar gente para a Copa. Algumas emissoras têm 100 ou 200 profissionais trabalhando por lá. (Multiplique isto por 32 países.) E esse pessoal quer somente uma coisa: mandar matérias para a redação. Estão sendo pagos para isso. Receberam passagem aérea, hospedagem, diárias de alimentação, equipamento, gratificação por hora-extra, o escambau. Precisam, portanto, registrar tudo que for possível dos jogos, dos adversários e da Seleção Brasileira. O problema é que quando não dá para achar uma matéria interessante, o pessoal começa a valorizar pequenos detalhes. Fulano mancou durante o treino; estará machucado? O ônibus da Seleção atrasou; terá havido alguma crise? Sicrano não cumprimentou o técnico ao ser substituído; ato de indisciplina?
A crise recente entre Dunga e a Rede Globo foi um sinal disso. Ao que se diz, Dunga cortou alguns privilégios que a Globo tinha em relação a outras emissoras. No tempo de Felipão, Fátima Bernardes viajava dentro do ônibus da Seleção, mandando entrevistas ao vivo para o “Jornal Nacional”. Está errada? De jeito nenhum, ela é jornalista e sua obrigação é conseguir a melhor matéria possível. Agora, Dunga disse: “Na-nani-nanão”. Está errado? De jeito nenhum, e eu como técnico faria o mesmo. O problema é que Dunga é mal-humorado e agressivo, e coloca todo mundo contra si. Quando desfechou palavrões contra um jornalista durante a coletiva isto lhe mereceu uma “blitz” monumental. No dia seguinte, todos os colunistas do “Globo” obedeceram a pauta de sentar o pau no treinador. Curiosamente, um dia depois o mar serenou ... Deve ter vindo uma ordem de cima: “Chega, já basta, vamos dar força pra Seleção, se não pega mal”.
Não é fácil encontrar um equilíbrio. Existe a privacidade de que os jogadores precisam. Eu, se fosse jogador, gostaria de ficar na minha, tranquilo, sem ter que dar 15 entrevistas por dia para a Rádio Bambala ou a TV Arimatéia. Mas também gostaria de poder bater um papo com jornalistas amigos (sim, muitos jornalistas e jogadores são amigos), ir num shopping ou dar uma volta para conhecer a cidade. Se fosse por Dunga, o time ficaria num quartel militar. Se fosse pela imprensa, ficaria num palácio com piscina e de portões abertos, como ficou em 2006 – e deu no que deu.
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