domingo, 18 de julho de 2010

2286) Adeus, Dunga (6.7.2010)



Perdi minha inocência esportiva na véspera da decisão da Copa de 1974, entre Alemanha Ocidental x Holanda, quando li uma entrevista de Franz Beckenbauer, dizendo: “Não podemos perder o jogo de amanhã, pois eu e meus companheiros assinamos contratos de publicidade caríssimos, mas que só terão validade se formos campeões”. A Alemanha ganhou e Beckenbauer está rico até hoje. Aliás não só ele. Qualquer jogador que dispute uma Copa do Mundo, mesmo que pela seleção de Honduras ou de Gana, está rico, pelo menos pelos meus parâmetros financeiros.

Previ repetidas vezes, aqui nesta coluna, que o Brasil perderia esta Copa, porque seria muito arriscado – para os Poderes Que Mandam – permitir que conquistássemos agora nosso sexto título, com todas as condições de conquistarmos o sétimo em 2014, quando seremos anfitriões. Iríamos deixar os outros muito para trás (a Itália com quatro, Alemanha com três). Sermos penta nos dá mais orgulho do que sermos a sede da floresta amazônica. Nossa imprensa e nossa torcida se apegam a isso, naquelas madrugadas dostoievskianas quando a Inutilidade do Ser e a Falta de Sentido ds Existência se abatem sobre nós. O sujeito está vendido e mal pago, escorraçado ao botequim, enganado pelo sócio, traído pela mulher, perseguido pelos credores, ameaçado pelo gerente do banco onde passa borrachudos, mas aí ele chama o garçom para pedir uma cerveja e vê a propaganda da Seleção na parede. “Ora que diabo,” pensa ele, “sou Penta!” Aí em vez de uma cerveja pede um litro de uísque. E assim caminha a humanidade.

A Seleção de Dunga perdeu pelas suas limitações óbvias, mas é uma pena que suas qualidades também óbvias venham a ser esquecidas em breve. O mais interessante até agora é que tudo que pediam que Dunga fizesse foi feito por Maradona: encher o time de atacantes, convocar as novas revelações, abrir os treinos, ser simpático com a imprensa, mandar o time todo para o ataque, exaltar o futebol-arte... Maradona fez tudo que Dunga se recusou a fazer, mas ambos deram com os mesmos burros na mesma água. Alguém já levantou a lebre de que “ex-jogador não serve para técnico de seleção”, o que me parece um erro. Até porque os nossos melhores treinadores, ou pelo menos os mais candidatos à vaga de Dunga, são todos ex-jogadores.

Dunga perdeu o primeiro jogo realmente difícil que teve na Copa, e o perdeu, surpreendentemente, quando já o tinha ganho pela metade, num primeiro tempo impecável. Eu pagaria uma fortuna, se a tivesse, para saber o que foi conversado no vestiário do Brasil, antes do 2o. tempo contra a Holanda. Não, não estou pensando em Teorias da Conspiração, naquelas histórias mirabolantes de que a Nike ou a Adidas ofereceu 10 milhões de euros à CBF para o Brasil abrir o jogo. Espero que isso nunca aconteça, porque Ricardo Teixeira tem uma cara danada de quem aceitaria. O Brasil perdeu pelos nervos, mas fico pensando: o que deixou o Brasil tão nervoso?

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