Participei dias atrás do VI Encontro Nacional “O Insólito como Questão na Narrativa Ficcional”, realizado na Uerj (Rio de Janeiro), sob a coordenação do Prof. Flávio Garcia, numa mesa que contou com as presenças de Júlio França e Flávio Carneiro. Os “encontros do insólito” na Uerj são um importante evento acadêmico de discussões sobre a literatura fantástica, tendo gerado inclusive uma série de livros reunindo as conferências e palestras dos participantes, num arco temático que inclui Murilo Rubião, literatura gótica, Mia Couto, realismo mágico, Borges, ficção científica e por aí vai. Juntamente com o Congresso de Literatura Fantástica (CLIF) organizado pelo Prof. André de Sena na UFPE (Recife), é um dos eventos acadêmicos mais importantes no estudo do que é variadamente chamado de “literatura não-mimética”, “literatura anti-científica”, “literatura meta-consensual”, “literatura da imaginação”... O Fantástico é como Tebas, a cidade das cem portas: qualquer uma lhe dá acesso.
O Fantástico tem mil facetas, porque são mil os pontos de
vista que o examinam. O Fantástico (que em suas franjas se confunde com o
estranho, o bizarro, o grotesco, o maravilhoso, o absurdo, etc.) é um
curto-circuito na narrativa realista de ficção, uma fórmula que exerce um
efeito tão poderoso sobre quem a cultiva. Nossa noção de realidade é construída
pelas camadas sucessivas de narrativas que nos são impostas ou oferecidas ao
longo da vida. Mesmo as narrativas que não aceitamos (as narrativas religiosas
ou políticas de interpretação-do-mundo, p. ex.) exercem um certo poder sobre
nós, produzem uma inflexão qualquer em nossa maneira de ver as coisas.
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