A produção visual e os roteiros de filmes de FC norte-americanos estão ficando tão parecidos que a gente começa a ver influência ou citação onde existe apenas a hegemonia de um estúdio ou o monopólio de um modo de fazer as coisas, atendendo a sucessivos clientes. Em muitos momentos de Interestelar (2014) de Christopher Nolan, em cartaz por aí, eu achei que estava vendo uma sequela ou uma refilmagem de Prometeus de Ridley Scott. Cascatas glaciais, aventura em planeta hostil que resulta em morte e fuga apressada para a nave-mãe, andróides ou computadores que imitam seres humanos, uma missão cuja verdadeira natureza só é sabida quando não tem mais volta, e por aí vai. O que é uma injustiça, pois o filme vai bem além daquele.
Primeiro porque a Terra de Nolan é muito mais interessante.
Uma Terra esfomeada, que parece viver exclusivamente de milho. Parece a Terra
de Filhos da Esperança (Children of Man), de Alfonso Cuarón. Nolan, com certo pudor, nem mostra o mundo
terrível que deve ser aquele, mas nos dá um vislumbre assustador, numa
diretora de escola, crente convicta de que a descida do homem na Lua foi
forjada pela televisão.
O fantasma que assola no início a casa do piloto Cooper
fornece um nó narrativo bem amarrado, que lembra o da “Continuidade dos
Parques” de Julio Cortázar ou o de O Vagabundo das Estrelas (Sylbad) de
Stefan Wul. Imagino que alguns críticos
irão torcer o nariz pelo fato de Nolan repetir seu efeito especial de A
Origem, o dos quarteirões de Paris que se erguem e se dobram sobre si
mesmos. Ele o faz, mas com uma razão
diegética bem humorada: o ambiente na face interior do cilindro da Estação, com
gravidade induzida por rotação, é exatamente assim. O labirinto pentadimensional onde Cooper se acha vagando, perto
do final, é de uma realização visual fascinante. Implausível? Claro que é,
não imagino nenhum ambiente pentadimensional que não o seja.
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