(ilustração: Romero Cavalcanti)
Corro o risco de estar cansando os leitores que me leem mais
regularmente, mas vou comentar de novo minha antologia “Detetives do
Sobrenatural”, que acabou de sair pela Casa da Palavra. A melhor coisa de ser antologista é o dever
moral de ler dezenas de volumes de contos alheios, e não tem coisa melhor do
que isto, quando a gente tem plenos poderes para escolher o que publicar. E em alguns casos nem precisa procurar
muito, porque na primeira tomada de nota sobre o assunto já aparecem 15 ou 20
histórias já lidas, como opções mais imediatas.
Os Detetives do Oculto, como também são chamados, pisam um
terreno minado, porque muitos deles não se limitam a fazer deducções numa
poltrona: visitam ambientes “carregados”, encenam rituais, entram em combate
direto com forças titânicas, ou satânicas, de ordem supra-material. O gênero usa até com certa contenção o “mumbo-jumbo”
teórico (com palavras tipo “plasma”, “etéreo”, etc.) além de conceitos bastante
vitorianos como o duplo, o espelho, o simulacro, o mundo supramaterial... Eles
examinam casas onde há fenômenos poltergeist, aparições de fantasmas, ataques
de seres estranhos, eventos insólitos e inexplicáveis.
Têm um pouco de Sherlock Holmes, como é o caso (na minha
antologia) de Bell (de Meade & Eustace), o Flaxman Low dos Heron, o
Carnacki de Hodgson – o mais high-tech de todos, enfrentando horrores
pré-lovecraftianos. Eu chamaria a
atenção para dois desses “sleuths”. Um deles é o Tio Abner, de Melville
Davisson Post (autor de contos policiais de época, num meio rural austero e
tenso). No conto que escolhi, Abner
enfrenta poderes do outro mundo, mas seu confronto é regido pela sua capacidade
de ler pistas, de perceber intenções, de dar atenção a detalhezinhos que
ninguém percebe. Um varão tonitruante e
contido do Velho Testamento, vestindo roupa de cowboy, com uma mão no revólver
e a outra sobre a Bíblia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário