Já falei aqui na coluna sobre um dos meus ídolos, o norte-americano Rube Goldberg (1883-1970), cartunista que ficou célebre pelos seus desenhos de máquinas complicadíssimas, cheias de elementos interligados surrealistamente para produzir efeitos bem bobos. Para acender uma lâmpada, Goldberg fazia um sujeito ligar um ventilador, cujo vento empurrava um barquinho num tanque, e o barquinho avançava até seu mastro desequilibrar uma calha, por onde rolava uma bola de ferro que caía sobre o prato de uma balança, e com isso fazia elevar-se o outro prato onde havia uma vela acesa, e a vela se elevava até a chama entrar em contato com um cordão esticado, e o cordão se rompia, e com isso liberava um peso, que puxava e largava a borracha de um estilingue, o qual desferia uma pedrada direto no botão do interruptor, acendendo a luz.
Isso lembra
um pouco o Paradoxo de Zenão, que tem diversas formas de enunciação, mas em sua
essência sugere que é sempre possível dificultar uma tarefa simples dizendo que
para executá-la é preciso executar primeiro outra, e antes dessa uma terceira,
e antes dessa terceira uma quarta, até o infinito.
Os roteiros
do cinema, principalmente dos filmes de ação, assimilaram essa vertigem. Há uma
coisa simples a ser feita (prender um bandido, resgatar uma pessoa, encontrar
um tesouro, concluir uma viagem), mas é sempre possível ficar inventando
peripécias e transtornos que cada vez deixam mais longe o objetivo final e
aumentam o suspense: “Conseguirão os nossos heróis, etc etc.?”. Não devemos
botar a culpa em Hollywood: que o primeiro culpado seja o Homero da Odisséia,
porque bem que Ulisses poderia ter voltado para Ítaca em uma semana, mas o
poeta danou-se a inventar ciclopes e Circes e comedores de lótus… Enfim: quando
o herói chegou em casa só quem se lembrava dele era o cachorro.
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