Nunca pensei que redes sociais através de computadores despertassem, em pessoas que a gente presume civilizadas, e que muitas vezes conhece pessoalmente, esses picos de agressividade, de descortesia, de violência verbal. Pessoas se intrometem com-quatro-pedras-na-mão num bate-papo de desconhecidos, insultando a uns e outros que não concordam com os pontos de vista lá delas. Insultos e ofensas estouram quando menos se espera. Por que?
Geralmente
se diz que a causa é a distância física e o anonimato. Comentar num blog nos dá
a possibilidade de ofender alguém que dificilmente vai ter a chance de afundar
nosso nariz com um soco, mesmo porque jamais saberá quem somos – estamos
assinando aquilo com nomes tipo GrimRaper ou NecrófagoDeAluguel. Tipo assim.
Deitamos e rolamos, e a possibilidade de rebordosa física (a única capaz de nos
atingir, porque moralmente somos um simples vapor rarefeito) é remota.
Na
“Carta Capital”, Luiz Gonzaga Belluzo escreveu algum tempo atrás: “Nos
comentários da internet, vai ‘de vento em popa’ o que Herbert Marcuse chamou de
‘automatização psíquica’ dos indivíduos. Os processos conscientes são
substituídos por reações imediatas, simplificadoras e simplistas, quase sempre
grosseiras, corpóreas. Nesses soluços de presunção opinativa, a consciência
inteligente, o pensamento e os próprios sentimentos desempenham um papel
modesto. Convencidos da universalidade do seu particularismo, os internautas
comentaristas distribuem bordoadas nos que estão no mundo exatamente como eles,
só que do lado contrário.”
Isto
me lembrou uma nota que li muitos anos atrás, de que na Suíça, país auto-controlado
e politicamente correto, havia lugares onde o sujeito pagava uma taxa fixa,
entrava numa sala e tinha ali uma imensidão de porcelanas baratas que ele podia
sair arrebentando com uma barra de ferro. Depois de 50 minutos e mil francos
suíços, o cara ia para casa repousado, descarregado, pacífico como um bebê
Johnson. As redes sociais devem ter para
alguns este mesmo efeito descarregador de tensões. O cara vai lá, arregaça,
pontifica, esculhamba com meio mundo, e vai dormir. Seu único problema agora é
que o ego não cabe na cama.
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