Um
dos melhores filmes do recente VIII Comunicurtas, em Campina Grande, foi o
documentário de Luciano Mariz, Cancha – antigamente era mais moderno, sobre
uma das figuras mais lendárias de Campina, Pedro Souto Guimarães, o famoso
“Pedro Cancha”. É um documentário que mergulha sem receio no mundo do
personagem, dando-lhe asas para voar na própria imaginação, além de ter um
equilíbrio de alta qualidade em direção de arte, fotografia, iluminação,
edição.
Em
1967, o costureiro recifense Marcílio Campos sugeriu que num clima tropical o
uso do saiote seria uma boa opção para os homens – mais arejado, mais
higiênico. (E, como cantou Luiz Gonzaga sobre a minissaia feminina,
“facilita”.) Uma teoria que já tinha sido defendida por Gilberto Freyre e por
Flávio de Carvalho (que em 1956 desfilou de saiote pelas ruas de São Paulo). A
matéria deu o que falar em Campina, mas o episódio modernista/paulista andava
esquecido. A turma do Calçadão propôs: E se a gente saísse na frente, com
alguém usando isso? Campina, como se sabe, sente-se na obrigação de estar
sempre na vanguarda de tudo.
O
problema é que precisavam de um voluntário para usar a indumentária, e quem
teria coragem? Alguém lembrou de Pedro Cancha, que morava em Zé Pinheiro e era
dono do cabelo mais comprido da cidade, numa época em que cabeludo era
insultado e escarnecido nas ruas (eu mesmo o fui, inúmeras vezes), e mesmo
apedrejado e perseguido. Pedro Cancha era rude, brabo, musculoso, e tinha um
cabelo maior do que o de Benito de Paula. Foi procurado. Topou. Alguém correu
em casa e trouxe um saiote da mulher ou da filha. Levaram Pedro para a escada
da redação do “Diário da Borborema” (onde eu trabalhava). Fotografaram-no em
“contre-plongée”, de baixo para cima (a foto está no filme).
No
dia seguinte o jornal saiu com a foto de Cancha na capa, e esgotou edições
sucessivas. Mais uma vez, Campina se equiparava às grandes capitais! Foi
organizado um desfile em carro aberto pela Maciel Pinheiro, diante de uma
multidão dividida (como toda multidão) entre o aplauso entusiasmado e a vaia
rancorosa. Pedro, de saiote, em pé no carro, gritava: “Juventude campinense! O
mundo está mudando! Viva a liberdade!”. Algo assim.
2 comentários:
Marcilio Campos, era natural do Congo/PB!!!
já vi que campina é animado.aqui em Palmares é tão monótono.
Postar um comentário