terça-feira, 1 de junho de 2010

2098) Os críticos do Google (28.11.2009)



Num mesmo dia, por Acaso (ou melhor: por Convergência Estatística), dei de cara com críticas ao Google, feitas por dois sujeitos que respeito: Umberto Eco e Ruy Castro. Acho que críticas à Memória Prima feitas por estes dois obsessivos colecionadores de informações são mais procedentes do que se fossem feitas por Bob Dylan e Caetano Veloso. Ruy e Eco são do ramo, e se têm ressalvas a fazer, não custa nada dar-lhes atenção.

Numa entrevista à Der Spiegel (aqui, em português: http://tinyurl.com/yze2mxj) Eco comenta uma exposição no Louvre de que foi curador, e cujo tema são “As Listas”. Para ele, fazer listas é uma das atividades mais importantes de uma cultura. Uma lista é um corte na realidade, é uma tentativa de criar uma ordem, um viés de significado. Indagado sobre a importância do Google, ele diz: “O Google faz uma lista, mas, no minuto em que eu olho para minha lista gerada pelo Google, ela já mudou. Essas listas podem ser perigosas - não para pessoas mais velhas como eu, que adquiriram o conhecimento de outra forma, mas para os jovens, para quem o Google é uma tragédia. As escolas precisam ensinar a fina arte de discriminar”.

Algo parecido diz Ruy Castro, com bom-humor, numa entrevista ao jornal Rascunho de Curitiba: “Quando ouço alguém dizer que já ‘pesquisou’ a meu respeito no Google, já sei que vem besteira a caminho. O Google só deveria ser acessível a pessoas com, no mínimo, um Ph.D em história e filosofia. É um instrumento poderoso demais para ser usado por semi-ignorantes. E é claro que é também maravilhoso, se você souber separar o que é documento e o que é pura leviandade”.

O que eles sugerem é que o valor de uma lista é criado pelo o viés de quem a faz: seus critérios (culturais, seletivos, qualitativos) sobre o que incluir e o que deixar de fora. Como os critérios do Google são mecânicos, estatísticos, quantitativos, é necessário um segundo viés, um segundo filtro – e esse, acham eles, falta aos jovens, os quais pensam às vezes que basta uma informação ter sido fornecida pelo Google para ser a resposta de que precisavam.

O Google é uma biruta (aqueles cones de pano nos aeroportos, que viram de acordo com o vento). O Google dá respostas provisórias, colhidas ao sabor da moda e do momento. Quando a roqueira Madonna namorou com o modelo brasileiro chamado Jesus, os principais hits do Google para a palavra “Jesus” se referiam ao moço, que estava sendo falado nos jornais do mundo inteiro. (Quando acabar, o herege é John Lennon!) Anos atrás, quando comecei a trocar o Cadê, o Yahoo ou o AltaVista pelo Google, as primeiras páginas eram um matagal de irrelevâncias, vinha tudo misturado. Hoje, há um critério: aparecem primeiro as páginas que foram consideradas mais satisfatórias pelos usuários (por um critério estatístico). Mas... concordo com Eco e Ruy. O Google parece menos com uma enciclopédia do que com um oráculo grego, cujas respostas sempre é preciso decifrar.

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