quarta-feira, 14 de abril de 2010

1906) “O Quinto Poder” (18.4.2009)




Este thriller de Alberto Pieralisi é um dos filmes brasileiros mais raros e elusivos. Ouvi falar nele pela primeira vez por volta de 1967, e só consegui vê-lo agora, 42 anos depois, no Canal Brasil. A cópia exibida tinha legendas em inglês, e uma advertência de que se tratava da única cópia existente. Ao que parece o filme foi proibido pela Censura do regime militar, e suas cópias foram destruídas ou se perderam.

Ele tem uma premissa de ficção-científica: o controle mental da população através de mensagens subliminares transmitidas pelo rádio e pela TV. Sob o efeito dessa lavagem cerebral imperceptível, o Brasil entrega-se aos saques, à depredação, ao crime, habilmente sugeridos pela montagem de manchetes das páginas policiais de jornais da época (noticiando inclusive o famoso incêndio do circo em Niterói com centenas de mortos) e cenas de passeatas, quebra-quebras, etc.

Os responsáveis pela conspiração (que falam alemão entre si) pretendem com isto assumir o poder num país desorientado e caótico.

[Aqui, o filme completo:
https://www.youtube.com/watch?v=amcp7zgJHyw ]

Em seu blog no Estadão, Luiz Zanin nota as influências hitchcockianas no filme de Pieralisi, como na luta no bondinho do Pão de Açúcar e na cena final em que o chefe dos espiões é perseguido pelo Exército no interior na estátua do Cristo Redentor. As cenas de perseguição (de automóveis, inclusive) têm um dinamismo de encenação, câmara e montagem que era muito raro no cinema brasileiro em 1962.

Do ponto de vista da ficção científica, a realização visual obedece, por economia de tempo e de dinheiro, a todos os clichês dos filmes B dos anos 1950: caixas metálicas cheias de mostradores, luzes piscando, osciloscópios, etc., além de referências tipo “mensagem HRB-350”.

O mais interessante é o conceito em si, porque mensagens subliminares (ou subliminais) são raras no cinema de FC da época, e só em décadas mais recentes foram tratadas a sério, como em Videodrome de David Cronenberg (1982).

Ainda no blog de Zanin há uma informação de Marcelo Miranda de que o produtor Carlos Pedregal, espanhol, dividiu com o italiano Pieralisi a direção do filme, encarregando-se das cenas de ação e perseguição. Isto faz deste filme pioneiro de FC no Brasil uma curiosa “intriga internacional”. Pedregal também teria sido o “marqueteiro” de uma campanha de Adhemar de Barros, e o criador do curioso slogan “Rouba, mas faz” que o político paulista usou desde então.

Essas informações ganham relevo no contexto de um filme cujo tema é a manipulação da mídia para provocar o caos no país e abrir caminho para a tomada do poder por um grupo radical. Um sintoma da convulsão social provocada pelos espiões são as manchetes dos jornais bradando: “Revolução: única saída!”, diante da mortandade desenfreada que campeia no país.

É claro que o governo militar pós-64 se sentiu incomodado com o filme, que, com suas evidentes limitações, é um dos melhores que o Brasil já produziu nesse gênero, e é mais atual hoje do que na época em que foi feito.









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