quarta-feira, 14 de abril de 2010
1908) Dez grandes canções de Roberto (21.4.2009)
O Rei Roberto Carlos faz 50 anos de carreira. A imprensa fica pedindo listas das dez melhores canções. Difícil escolher. É como tomar um copo de água gelada num sábado de sol e alguém de prancheta em punho nos perguntar quais foram as dez melhores gotas. Mas o leitor gosta de comprar. Cheio de esperança, alinho-me entre os vendedores. E aqui vão dez, sem ordem de valor.
Primeiro, “O Calhambeque”, uma fascinante mistura do cantado com o falado, precursora de tantos “raps” de 30 anos depois, e com um irresistível “bip-bip!” para a platéia repetir em uníssono. Por trás, a chuckberryana saga urbano-adolescente do rapaz que, sartreanamente, só existe ao volante de um carro, nem que seja uma fubica. Depois, “Quero que vá tudo pro inferno”, que abre com um órgão arrebatador, um vocal lancinante, uma letra irreverente para a época. Uma canção pro cara cantar bêbado, de madrugada, embaixo da janela da respectiva, no melhor estilo “venha senão eu morro”.
Canções de amor são o forte do Rei, e aqui vai uma trinca de ases. “Como é grande o meu amor por você”, “Quase fui lhe procurar” (Getúlio Cortes) e “Ninguém vai tirar você de mim” (Edson Ribeiro & Hélio Justo) são canções que toco e canto desde que o vinil que as imortalizou ainda estava quente. Há outras melhores? Talvez. Mas estas são as minhas. Para complementar, o clássico “Detalhes”, sobre a qual já correu um itapemirim de tinta e não preciso comentar.
O Rio descobriu, num show de Caetano Veloso, que a pequena obra-prima “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” tinha sido composta por Roberto para ele, durante o exílio. É engraçado. Na época, todo mundo sabia disso. Só posso atribuir tal surpresa à faixa etária de imprensa atual. Outra canção-de-amigo que virou hino foi “Amigo”, para Erasmo Carlos, que mostra um lado importante das músicas de RC: a verdade autobiográfica. Eu, que tanto louvo o “Eu poético distanciado”, tiro aqui o chapéu para o poeta cujo Eu é geralmente ele mesmo.
Já vamos em oito, e até agora só falei títulos óbvios! Vou completar a lista com duas músicas que ninguém conhece ou lembra. Uma delas é “Do outro lado da cidade” (Helena dos Santos): “A cidade agora / do outro lado tem / alguém que vive sem saber / que eu vivo aqui também...”, com uma melodia simples e tocante. Uma canção de distância urbana, de jovem sozinho, sem paradeiro e sem amor, numa cidade sem sol que poderia ser a Seattle de Kurt Cobain ou a Detroit de Eminem. A outra é “Nasci para chorar”, versão de Erasmo para uma canção italiana: “Eu levo a minha vida chorando pelo mundo / talvez até tivesse algum desgosto profundo / procuro na memória, procuro me lembrar / mas eu não posso – nasci para chorar...” É uma canção dilacerada, adolescente, pessimista, mas de um pessimismo “pra cima”, revoltado, sem submissão ao Destino, o pessimismo rock-and-roll de quem diz “morro, mas morro atirando”. Acabou a lista? Mas rapaz, eu ainda tinha uma quarenta!
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2 comentários:
Muito legal ler esses comentários sobre as músicas de RC. E é interessante notar que todas elas continuam fascinantes até hoje. Não vivi a época de ouro dele, mas, mesmo assim, sou um grande admirador. Particulamente, sempre me emociono e me arrepio ao escutar "Fera Ferida" e "À Janela". O rei tem músicas pra dar e vender, e ainda sobra.
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