segunda-feira, 29 de março de 2010
1842) “Forró de Todo Canto” (3.2.2009)
Se você por acaso é produtor, dou de graça um projeto de CD. Este mote é para tentar ilustrar uma das coisas mais perguntadas, fora do Nordeste, a respeito do nosso universo. As pessoas perguntam: mas afinal o que é forró? Porque o forró não é apenas um gênero musical, um ritmo. É um contexto social completo, que envolve um local, um grupo de pessoas, uma forma de comportamento, um repertório de bebidas e alimentos, uma certeza de diversão e uma possibilidade de violência. Isto tudo poderia ser ilustrado num CD com o título provisório de “Forró de Todo Canto”, contendo apenas canções com o título nesse formato.
Poderíamos começar com o “Forró em Campina” de Jackson: “Ó linda flor, linda morena, Campina Grande, minha Borborema...” É a canção emblemática em que o rei do ritmo recorda sua formação e seu aprendizado, uma “Bildungslied”, se me perdoam este termo bárbaro: “Bodocongó, Alto Branco, Zé Pinheiro... Aprendi tocar pandeiro nos forrós de lá!” Esta faixa poderia ser sucedida pelo “Forró de Zé Lagoa” de Rosil, em que faríamos a união entre a música e o rádio, artista real e personagens fictícios, porque tal forró existiu apenas nas ondas hertzianas: “Se você não viu, vá ver que coisa boa, em Campina Grande o forró de Zé Lagoa”. É a cara de Campina: desembarca um turista perguntando pelo tal forró, e o pessoal explica: “Não existe não, é tudo invenção de Rosil...”
E aí teríamos uma sequência impecável e divertida, começando com o “Forró de Mané Vito”, que introduz o tema do sururu e do bafafá: “Puxei do meu punhal, soprei no candieiro, botei tudo pro terreiro, fiz o samba se acabar”. Forró, no inconsciente coletivo, sempre acaba em confusão. Daí pularíamos para o “Forró em Limoeiro” (“Eu fui pra Limoeiro, e gostei do forró de lá... Eu vi um caboclo brejeiro, tocando a sanfona, e gostei do fuá...”). É claro que “no meio do forró houve um tereré”, que envolveu o “mano Zé” e depois a “Dona Dedé” que “puxou da navalha e entrou no forró”.
A barra parece mais leve no “Forró em Caruaru” (“No forró de Sá Joaninha em Caruaru, compadre Mané Bento, só faltava tu!”). Tudo começa numa boa: “Eu nunca vi, meu compadre, uma dança tão boa, tão cheia de folguedo e de animação...” Mas por causa de ciúme e de maus bofes a coisa degringola e acaba envolvendo as Forças Armadas (“matemo dois soldado, quatro cabo e um sargento!”).
Músicas assim prolongam o mito de que forró que presta acaba em quebra-quebra. Claro que, se todo forró fosse assim, a espécie teria se extinguido muito mais rapidamente, mas felizmente existem protagonistas como o do “Forró do Surubim”, que “faz uma rosca na ponta do bigode, com ele ninguém pode, só ele é valentão”. Melhor encerrar a seleção com o “Forró na Gafieira”: “Eu peguei logo uma escurinha, e mandei passo de coco que foi um chuá... Falando assim parece brincadeira, mas num instante a gafieira virou um forró!”
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