sexta-feira, 2 de outubro de 2009

1283) Roliúde Nordestina? (24.4.2007)



Tenho lido notas na imprensa sobre um movimento destinado a transformar a cidade de Cabaceiras e seus arredores numa “Roliúde Nordestina”. A intenção é celebrar o fato de que ali já foram rodadas cenas de 18 filmes brasileiros, estando entre os mais recentes Cinema, Aspirinas e Urubus, Auto da Compadecida e São Jerônimo. Cabaceiras tem, de fato, uma paisagem magnífica: árida, pedregosa, cheia de formações geológicas fantásticas, como as do Lajedo de Pai Mateus.

Só acho errado, em primeiro lugar, considerar que isto faz dela uma Hollywood. Faria se fosse de lá que surgissem os capitais, os financiamentos, as produções, porque é isso que Hollywood é: um centro capitalista, milionário, com centenas de milhares de profissionais ganhando bem, e alta tecnologia. Não me parece que seja a situação atual de Cabaceiras. Cabaceiras é uma bela locação, não é centro empresarial cinematográfico. Se é para comparar a brava cidade do Cariri com o cinema americano, podemos compará-la com o Monument Valley, no Utah – aquelas mesetas enormes erguendo-se no deserto avermelhado, onde se filmaram tantos faroestes inesquecíveis. Ou com o Vale da Morte, paisagem belíssima e inóspita para onde até Antonioni (Zabriskie Point) já levou suas equipes.

Não é preconceito contra Hollywood, mesmo que nesta coluna filmes de Hollywood sejam desancados com freqüência. Sou dos cineclubistas de velha escola, “os filhos de John Ford e Jane Fonda”. Mas por que diabos o cinema paraibano, que tem tão pouco a ver com Hollywood, precisa recorrer a essa palavra para dizer que é cinema? O mestre Wills Leal, um dos envolvidos no projeto, teria afirmado que esta idéia "serviu apenas como elemento de marketing, pois o cinema que vem sendo feito ali e o que defendemos é exatamente o oposto".

Bem, se é o oposto, temos referências muito mais nobres do que a palavra Hollywood. Poderíamos batizar um possível centro cinematográfico paraibano com o nome de “Aruanda” ou “São Saruê”, que me parecem mais bonitos e mais sonoros do que Hollywood. Mas é impressionante essa nossa dependência psicológica em relação aos nossos neo-colonizadores. Mesmo quando os combatemos, ficamos nos comparando com eles o tempo todo. É como chegar para um torcedor de futebol em Campina e perguntar qual é o time dele, e ele dizer: “Torço por aquele outro time, sem ser o Campinense”. Um torcedor assim merece respeito?

Tudo que pudermos fazer pelo Cinema Paraibano é importante, porque há tanta coisa para ser feita. Uma delas é imaginarmos que o cinema paraibano prescinde, para existir, da existência de Hollywood. Como prescinde também (para dar um exemplo mais nobre) da Cinemateca Francesa, que para mim é o Templo Universal da Arte Cinematográfica. Ou a gente é alguma coisa que vale a pena existir por méritos próprios, ou então faz como Graciliano Ramos sugeriu fazer com Alagoas – transforma num golfo.

Nenhum comentário: