O Aquecimento Global criará ainda neste século uma nova modalidade de turismo, o turismo histórico de mergulho submarino.
A Ciência adverte que, pelo andar da carruagem, nossas cidades litorâneas serão mais cedo ou mais tarde invadidas pelo mar. Imensos tesouros históricos serão submersos – pense Rio de Janeiro, Salvador, Recife. As gerações futuras ouvirão falar nessas cidades míticas que encerram tantas belezas e tantas histórias do passado.
E tentarão recuperá-las, assim como os cientistas e exploradores de hoje conseguiram localizar o “Titanic”, penetrar dentro dele, filmar seus salões revestidos de lama e coral, seus corredores habitados por peixes cegos, suas suítes de luxo onde hoje dormem os polvos e as medusas.
A civilização terá se refugiado na Serra de Petrópolis. Equipes coordenadas pelos “James Cameron” futuros virão de barco até o litoral, colocarão seus trajes de mergulho e seus balões de oxigênio. Talvez o seu atracadouro fique nas proximidades do Cristo Redentor, que estará então com água pela cintura, e será a única coisa feita pela mão do homem a emergir das águas. E os turistas futuros mergulharão para explorar o Maracanã (já quase transbordando de plancto), para nadar no interior da abóbada da Candelária.
Esta idéia me veio à mente desde que li pela primeira vez o conto de Kim Stanley Robinson “Venice drowned” (1981) em que turistas do futuro mergulham nas águas do Mediterrâneo para contemplar, com possantes lanternas subaquáticas, os tesouros arquitetônicos e pictóricos da antiga capital dos Doges.
A civilização terá se refugiado na Serra de Petrópolis. Equipes coordenadas pelos “James Cameron” futuros virão de barco até o litoral, colocarão seus trajes de mergulho e seus balões de oxigênio. Talvez o seu atracadouro fique nas proximidades do Cristo Redentor, que estará então com água pela cintura, e será a única coisa feita pela mão do homem a emergir das águas. E os turistas futuros mergulharão para explorar o Maracanã (já quase transbordando de plancto), para nadar no interior da abóbada da Candelária.
Esta idéia me veio à mente desde que li pela primeira vez o conto de Kim Stanley Robinson “Venice drowned” (1981) em que turistas do futuro mergulham nas águas do Mediterrâneo para contemplar, com possantes lanternas subaquáticas, os tesouros arquitetônicos e pictóricos da antiga capital dos Doges.
As imagens do conto são arrepiantes quando nos evocam essas Atlântidas do futuro, essas cidades míticas que nossos tatatara-netos conhecerão apenas através de álbuns holográficos e de turnês de realidade virtual. Ouvirão falar do Mercado Modelo de Salvador, do Marco Zero de Recife, e sentirão o impulso de envergar seus aqualungs e disputar espaço com peixes mutantes pelo privilégio de entrar nadando por aquelas janelas, percorrer os corredores.
O próprio Chico Buarque já previu, em “Futuros Amantes” (1993):
“E quem sabe, entãoo Rio será alguma cidade submersa.Os escafandristas virão explorar sua casa,seu quarto, suas coisas,sua alma, desvãos.Sábios em vão tentarão decifraro eco de antigas palavras,fragmentos de cartas, poemasmentiras, retratos, vestígios de estranha civilização."
É claro que papéis, telas, quadros, tudo isso será irremediavelmente comprometido. Sobreviverão as obras de arte feitas em matéria mais resistente: escultura, arquitetura. Sobreviverão edifícios cobertos pela hera do lodo, e só em casos raros será possível resgatar e trazer à superfície algum cofre hermeticamente fechado onde acharemos notas de dólar e euro que não valem mais nada, e cartas de amor que valerão uma fortuna.
Pois é, os praieiros de toda parte que se cuidem, porque, como diz aquela música, “o chão do Recife afunda um centímetro a cada gole”.
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