É um quadro de Max Ernst feito em 1924, no início do movimento surrealista parisiense. Joguem no Google Imagens seu título original, Deux enfants menacés par un rossignol e verão reproduções sofríveis que dão uma idéia geral da obra.
Sua estranheza começa pelo título, escrito no rodapé, seguido da assinatura de Ernst. Na imagem, o rouxinol não parece ameaçar ninguém, apenas sobrevoa a cena horizontalmente, numa atitude que só pareceria ameaçadora se fosse um avião de bombardeio.
O quadro mostra uma espécie de terreno baldio coberto de grama ou mato rasteiro, flanqueado por um longo muro. Ao fundo, vemos um arco-do-triunfo de cimento cinza, tendo em cima um vulto com o braço esquerdo erguido. Mais atrás, a silhueta de uma cúpula que lembra uma mesquita, tendo uma torre ao lado, ambas meio encobertas pela névoa.
Alguns objetos sólidos, pregados sobre o quadro, se projetam para fora dele. Do lado esquerdo, um portãozinho de madeira, com dobradiças e grades verticais. À direita, uma espécie de casinhola ou pombal, toda fechada, tendo pregada na parte da frente uma daquelas faquinhas arredondadas de passar manteiga. Um pouco acima da casinhola, uma maçaneta redonda de madeira, tendo ao centro um botão vermelho.
E quem são as duas crianças? Há quatro personagens humanos no quadro. Todos têm uma tonalidade cinza que contrasta com as cores fortes do restante, como se fossem personagens de um filme em preto-e-branco perdidos num filme a cores.
Há uma mulher caída no chão, como que desacordada ou morta. Perto dela, outra mulher, de cabelos desgrenhados, corre com uma faca na mão, sendo sobrevoada pelo rouxinol e olhando para ele. Em cima da casinhola, há um personagem masculino mas sem rosto, que corre levando nos braços uma criança de cabelos longos, e estende a mão na direção da maçaneta.
O quadro produz um efeito contraditório de perspectiva. A presença dos objetos colados nos faz considerar como parte do quadro os retângulos concêntricos da moldura. Mas o espaço da pintura (o Real-do-quadro) é rompido por estes objetos, que se tornam fantásticos porque não pertencem ao mundo bidimensional do quadro, por serem feitos de uma matéria maciça que não corresponde à das pessoas retratadas.
Outro efeito sutil de interpenetração de mundos é obtido por Ernst ao pintar trechos do céu sobre o último retângulo interno da moldura, fazendo-a participar do quadro (que é pintado sobre uma folha de madeira, não sobre tela).
Max Ernst é, para mim, o maior dos surrealistas. Sua obra tem temas em comum com as de Magritte e De Chirico, mas vai muito além de ambos. Em matéria de honestidade moral e de criatividade visual, é muito superior a Dali (que só o supera em técnica pictórica e em onirismo).
Mais que apenas pintar, Ernst justapõe materiais e signos de diferentes naturezas, e suas obras são as que chegam mais perto do ideal surrealista: reproduzir o funcionamento real da mente humana.
Sua estranheza começa pelo título, escrito no rodapé, seguido da assinatura de Ernst. Na imagem, o rouxinol não parece ameaçar ninguém, apenas sobrevoa a cena horizontalmente, numa atitude que só pareceria ameaçadora se fosse um avião de bombardeio.
O quadro mostra uma espécie de terreno baldio coberto de grama ou mato rasteiro, flanqueado por um longo muro. Ao fundo, vemos um arco-do-triunfo de cimento cinza, tendo em cima um vulto com o braço esquerdo erguido. Mais atrás, a silhueta de uma cúpula que lembra uma mesquita, tendo uma torre ao lado, ambas meio encobertas pela névoa.
Alguns objetos sólidos, pregados sobre o quadro, se projetam para fora dele. Do lado esquerdo, um portãozinho de madeira, com dobradiças e grades verticais. À direita, uma espécie de casinhola ou pombal, toda fechada, tendo pregada na parte da frente uma daquelas faquinhas arredondadas de passar manteiga. Um pouco acima da casinhola, uma maçaneta redonda de madeira, tendo ao centro um botão vermelho.
E quem são as duas crianças? Há quatro personagens humanos no quadro. Todos têm uma tonalidade cinza que contrasta com as cores fortes do restante, como se fossem personagens de um filme em preto-e-branco perdidos num filme a cores.
Há uma mulher caída no chão, como que desacordada ou morta. Perto dela, outra mulher, de cabelos desgrenhados, corre com uma faca na mão, sendo sobrevoada pelo rouxinol e olhando para ele. Em cima da casinhola, há um personagem masculino mas sem rosto, que corre levando nos braços uma criança de cabelos longos, e estende a mão na direção da maçaneta.
O quadro produz um efeito contraditório de perspectiva. A presença dos objetos colados nos faz considerar como parte do quadro os retângulos concêntricos da moldura. Mas o espaço da pintura (o Real-do-quadro) é rompido por estes objetos, que se tornam fantásticos porque não pertencem ao mundo bidimensional do quadro, por serem feitos de uma matéria maciça que não corresponde à das pessoas retratadas.
Outro efeito sutil de interpenetração de mundos é obtido por Ernst ao pintar trechos do céu sobre o último retângulo interno da moldura, fazendo-a participar do quadro (que é pintado sobre uma folha de madeira, não sobre tela).
Max Ernst é, para mim, o maior dos surrealistas. Sua obra tem temas em comum com as de Magritte e De Chirico, mas vai muito além de ambos. Em matéria de honestidade moral e de criatividade visual, é muito superior a Dali (que só o supera em técnica pictórica e em onirismo).
Mais que apenas pintar, Ernst justapõe materiais e signos de diferentes naturezas, e suas obras são as que chegam mais perto do ideal surrealista: reproduzir o funcionamento real da mente humana.
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