(Luís Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança")
É impossível sabermos o que uma pessoa está pensando, ou o que pensou num instante qualquer da vida. Podemos apenas ouvir o que ela diz, observar o que ela faz, comparar com ditos e feitos anteriores, e fazer suposições. Funciona – e vivemos assim desde as cavernas. Pode não ser o ideal, mas dá para ir tocando o barco.
Nas entrevistas que deu ao longo da vida, Luís Carlos Prestes afirmava que apertou a mão de Getúlio Vargas porque no momento em que o Brasil precisava se colocar contra o Nazismo ele, Prestes, tinha que colocar os interesses da Pátria acima dos seus interesses pessoais, ou seja, da sua revolta pelo que Vargas tinha feito a Olga Benário. Esqueçamos agora a questão histórica e pessoal de Prestes (“Foi mesmo isto, ou ele tinha outras motivações?”) e vamos discutir o princípio geral. Suponhamos, por hipótese-de-trabalho, que Prestes falou a verdade, e de fato agiu daquele forma pelo motivo que alegou. Agiu certo ou errado?
Olga Benário fôra encarregada pela URSS de proteger Prestes a todo custo. Casou com ele, lutou ao seu lado na clandestinidade, salvou-lhe a vida algumas vezes. Por ironia, hoje é mais famosa entre os jovens do que ele, sendo celebrada em livro, filme, etc. Presa por Getúlio, grávida, foi entregue pelo ditador à polícia de Hitler, e depois de dar à luz morreu num campo de concentração. Em honra à sua memória (dizem) o viúvo jamais poderia cumprimentar publicamente e apoiar politicamente o ditador que a entregou para a morte. Mas suponhamos que o viúvo tenha achado mais importante, naquele momento, incentivar o rompimento de Vargas com o Eixo e o envio de tropas brasileiras para combater o nazi-fascismo. Isto não seria motivo suficiente para fazê-lo esquecer por um instante sua tragédia pessoal?
O Brasil é cheio de políticos que colocam, acima dos interesses do país (que, diga-se de passagem, eles são regiamente pagos para defender) as suas amizades pessoais, suas conveniências familiares, suas fidelidades de Partido ou de clã. Nossa República desconhece o conceito abstrato de Pátria, a não ser na hora de fazer discurso. O que nela existe de sentimentos nobres (lealdade, fidelidade, generosidade, etc.) se destina à parentela, aos amigos e aos aliados de ocasião. É por isto que o gesto de Prestes nos horroriza, porque achamos que seria moralmente mais nobre o ajuste de contas com o ditador, e a Pátria que se danasse.
Prestes nunca deu certo na política brasileira. Era um mito revolucionário, não uma raposa política como Lênin ou Trotsky. Um sujeito com uma idéia fixa, com um Ideal. Vi-o falar muitas vezes na TV: nunca o vi sorrir. Parecia-me um homem seco, inflexível, que impunha respeito mas não despertava afeto. Excelente como símbolo de um causa; devia ser péssimo no varejo-de-conchavos que são os corredores do Congresso. A política brasileira pode até ter superado os seus defeitos, mas bem que poderia ter herdado as suas qualidades.
É impossível sabermos o que uma pessoa está pensando, ou o que pensou num instante qualquer da vida. Podemos apenas ouvir o que ela diz, observar o que ela faz, comparar com ditos e feitos anteriores, e fazer suposições. Funciona – e vivemos assim desde as cavernas. Pode não ser o ideal, mas dá para ir tocando o barco.
Nas entrevistas que deu ao longo da vida, Luís Carlos Prestes afirmava que apertou a mão de Getúlio Vargas porque no momento em que o Brasil precisava se colocar contra o Nazismo ele, Prestes, tinha que colocar os interesses da Pátria acima dos seus interesses pessoais, ou seja, da sua revolta pelo que Vargas tinha feito a Olga Benário. Esqueçamos agora a questão histórica e pessoal de Prestes (“Foi mesmo isto, ou ele tinha outras motivações?”) e vamos discutir o princípio geral. Suponhamos, por hipótese-de-trabalho, que Prestes falou a verdade, e de fato agiu daquele forma pelo motivo que alegou. Agiu certo ou errado?
Olga Benário fôra encarregada pela URSS de proteger Prestes a todo custo. Casou com ele, lutou ao seu lado na clandestinidade, salvou-lhe a vida algumas vezes. Por ironia, hoje é mais famosa entre os jovens do que ele, sendo celebrada em livro, filme, etc. Presa por Getúlio, grávida, foi entregue pelo ditador à polícia de Hitler, e depois de dar à luz morreu num campo de concentração. Em honra à sua memória (dizem) o viúvo jamais poderia cumprimentar publicamente e apoiar politicamente o ditador que a entregou para a morte. Mas suponhamos que o viúvo tenha achado mais importante, naquele momento, incentivar o rompimento de Vargas com o Eixo e o envio de tropas brasileiras para combater o nazi-fascismo. Isto não seria motivo suficiente para fazê-lo esquecer por um instante sua tragédia pessoal?
O Brasil é cheio de políticos que colocam, acima dos interesses do país (que, diga-se de passagem, eles são regiamente pagos para defender) as suas amizades pessoais, suas conveniências familiares, suas fidelidades de Partido ou de clã. Nossa República desconhece o conceito abstrato de Pátria, a não ser na hora de fazer discurso. O que nela existe de sentimentos nobres (lealdade, fidelidade, generosidade, etc.) se destina à parentela, aos amigos e aos aliados de ocasião. É por isto que o gesto de Prestes nos horroriza, porque achamos que seria moralmente mais nobre o ajuste de contas com o ditador, e a Pátria que se danasse.
Prestes nunca deu certo na política brasileira. Era um mito revolucionário, não uma raposa política como Lênin ou Trotsky. Um sujeito com uma idéia fixa, com um Ideal. Vi-o falar muitas vezes na TV: nunca o vi sorrir. Parecia-me um homem seco, inflexível, que impunha respeito mas não despertava afeto. Excelente como símbolo de um causa; devia ser péssimo no varejo-de-conchavos que são os corredores do Congresso. A política brasileira pode até ter superado os seus defeitos, mas bem que poderia ter herdado as suas qualidades.
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