domingo, 12 de abril de 2009

0967) O mouse e o preguiçoso (22.4.2006)



No começo de minha vida informática, trabalhei mais de um ano usando um editor de texto que não acentuava as palavras. Qualquer acento que eu quisesse botar eu tinha que apertar a tecla “Ctrl” e uma combinação teclas no teclado numérico do lado direito. A letra “í”, por exemplo (com acento agudo), era “Ctrl + 131”. Eu sabia de cor todas as combinações para fazer tudo (til, acento agudo, circunflexo, grave, trema, cedilha) e fazia num piscar de olhos. Quando troquei de programa, foi um problema pra me reacostumar.

Tempos atrás, fazendo um trabalho com outro cara, fiquei roendo as unhas de nervosismo ao vê-lo passar dez minutos para copiar o texto inteiro de um arquivo para o final de outro arquivo. Tentou várias vezes, sem conseguir ir até o fim. Ele queria selecionar tudo com o mouse, e como eram 2 ou 3 páginas sempre havia um ponto em que o mouse escapulia e ele tinha que recomeçar. Depois que conseguia selecionar, era precisar conduzir o mouse até o iconezinho de “copiar”. Mas aí clicava sem querer em outro ponto, e a “seleção” desaparecia. “Deixa que eu faço”, implorava eu. E ele: “Calma, rapaz, é assim mesmo”. Tentei ensinar-lhe que bastava clicar “Ctrl + T” (selecionar tudo), “Ctrl + C” (copiar), abrir o arquivo de destino, clicar com o mouse no ponto onde o texto devia entrar, e depois “Ctrl + V” (que significa “colar” – e não me pergunte por quê a letra V, não entendi até hoje).

Existem duas escolas de usuários de computador: a turma do teclado e a turma do mouse. A turma do teclado provém, acho, daqueles que já usavam máquina de escrever há muitos anos, e se sentem à vontade digitando comandos nas teclas. Acham isto mais fácil, mais rápido, mais intuitivamente compreensível (eu pertenço a esta turma). A turma do mouse começou a usar computador na era do Windows, da interface gráfica e do mouse, e só sabe se guiar visualmente: olha, clica, arrasta, etc. Se lhe tirarem o mouse, não conseguem fazer quase nada. Eu, sem mouse, trabalho normalmente em 95% das coisas. Para quase tudo existe um equivalente no teclado.

Existe uma profunda diferença entre digitar um comando e clicar num link. Colocando as coisas de um modo mais bruto, eu diria que digitar um comando é um ato consciente de quem entende o processo que está manipulando; clicar num link requer apenas os mesmos dois neurônios com que alguém toca num objeto com o dedo indicador e diz: “Quero isto”. A interface gráfica, que produz esta tela bonitinha, desenhadinha, colorida, nos dispensa de entender o que se passa por trás dela. É prática, é visual, é intuitiva... e emburrecedora. A interface gráfica me lembra aquelas super-secretárias de alguns executivos, que cuidam da correspondência, da agenda, das viagens, do guarda-roupa... No dia em que a secretária entra em pane, o sujeito não sabe sair de casa e chegar no escritório. Só então ele percebe que não sabia comandar.

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