Foi um dos filmes mais discutidos da década de 1970 e certamente um dos filmes políticos mais discutidos de todos os tempos. Ganhou um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e foi proibido no Brasil pela ditadura militar, curiosa contradição que nos leva a lembrar o quanto os súditos, muitas vezes, querem ser mais realistas que o rei. A verdade é que Z de Costa Gavras não poderia mesmo ter sido exibido aqui no Brasil. A história que conta parecia-se demais com as histórias dos assassinatos políticos que estavam acontecendo em nosso próprio país. E ainda se parece. Não pude deixar de recordar casos confusos do momento atual, como as mortes não-explicadas de políticos como os prefeitos Celso Daniel e Toninho do PT. São aqueles casos em que morre um sujeito, e durante os anos em que se arrasta o processo ocorre uma verdadeira epidemia de mortes “naturais” e “acidentais” exterminando as testemunhas. É pior do que a Maldição do Faraó.
Z refere-se de modo indireto mas claro à Grécia daquele tempo, então sob a ditadura de um bando de coronéis. No filme, um cientista (Yves Montand) chega a uma cidade do interior para participar de um comício anti-nuclear. As autoridades fazem o que podem para intimidar os organizadores do comício, mas este acaba se realizando. Do lado de fora, a polícia vigia a guerra de slogans e cartazes entre grupos pacifistas e anti-pacifistas. Infiltrados na multidão, estão alguns brutamontes que acabam ferindo mortalmente o cientista. O resto do filme acompanha a investigação feita por um promotor não-alinhado com os militares (Jean-Louis Trintignant) e um fotógrafo independente que presencia o crime e resolve denunciá-lo (Jacques Perrin).
Z tem um ótimo roteiro, uma narrativa rápida, e um dos seus pontos principais é o modo como nos exibe as entranhas das ditaduras militares. Alguns dos personagens principais do filme são aqueles sujeitos meio marginais, meio sub-empregados, metidos a brutamontes, que nos regimes violentos são usados nos grupos de quebra-quebra, nos enfrentamentos com estudantes, etc. Muitas vezes se organizam em grupos de intimidação ou de extermínio. São pura massa de manobra: sujeitos broncos, metidos a machões, doidos por uma chance para participar de espancamentos sob a proteção de uma autoridade qualquer.
Um velho provérbio diz que a maior ameaça numa ditadura não é o ditador, é o guarda da esquina. As ditaduras impõem a violência para atingir seus objetivos, e, como vivem da violência, interessa-lhes estimular o florescimento desta nobre atividade. Isto lhes permite recrutar para si os violentos não-ideológicos (os que só querem mesmo um pretexto para dar porrada) e extinguir a violência ideológica dos grupos de oposição, como foi feito com nossa guerrilha tupiniquim. O curioso é que mesmo depois que as ditaduras acabam, não acaba a tentação de recorrer aos seus métodos. “Vamos dar um cala-a-boca em Fulano antes que ele estrague tudo”.
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