quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

0685) A força do amor (29.5.2005)



João é um jovem carioca, ganha um ótimo salário na empresa onde trabalha. João conhece Shakira, uma modelo fotográfica, e os dois se apaixonam. Ele tira uma licença não-remunerada no emprego, leva-a para Aruba, e ali vivem um mês de tórrida paixão. No vôo de volta pegam uma briga feia, vão cada qual para seu lado. 

João cai na fossa. Shakira não atende suas ligações. Num rompante de ousadia, ele vai numa concessionária e compra (parcelando em 48 vezes) uma BMW. Aborda Shakira quando ela sai de casa, e balança a chave diante dos seus olhos. Ela cai nos seus braços dizendo que o ama. 

Os dois decidem comemorar indo a Paris. Depois de uma semana lá, brigam de novo. Shakira volta para o Brasil, e João se apaixona por Yvonne, a garçonete do restaurante vizinho ao seu hotel. Pede demissão, arranja um emprego de garçom no mesmo restaurante, semanas depois casa com ela. João está tão apaixonado que exige um filho, mas como Yvonne não consegue engravidar, seis meses depois eles se divorciam e João volta para o Brasil. 

Ao desembarcar, está apaixonado por Lucinéia, uma jovem de Natal que o Destino sentou na poltrona ao lado da sua, no avião. Ele desce em Natal com ela, e pede a amigos no Rio que mandem sua mudança. 

O amor vai bem, mas João descobre que está sendo processado por abandono do emprego, e que um advogado francês está movendo contra ele uma ação de maus tratos contra a ex-esposa. Afundado em dívidas, ele pensa em vender a BMW e contrata um advogado para tomar o carro de Shakira. A pendenga se arrasta durante meses, ele perde a causa, e Shakira lhe move um processo por danos morais. 

Em desespero de causa, João pede calma a Lucinéia, volta ao Rio, vai a um Banco onde é amigo do gerente e levanta um empréstimo de 500 mil reais, a juros de 40% ao ano, para saldar as dívidas. Na saída do Banco reencontra Doralice, uma antiga namorada, e os dois se apaixonam. João pega os 500 mil e os dois vão para Las Vegas, onde ele perde tudo na roleta e bota a culpa em Doralice. 

Coitado do João? Que nada. João não existe. Coitados dos clubes de futebol brasileiro, que se comportam exatamente desta forma na contratação de técnicos e de craques. Nem vou falar na roubalheira (cartolas que usam os clubes para lavar dinheiro ganho com o crime organizado ou com a corrupção política), porque esse é um caso de polícia. Falo dos casos de amor sincero. Não há amor mais desinteressado do que o que um homem sente por um clube de futebol, mas este amor se materializa na forma de tresloucadas paixões por um craque ou um técnico que será o Salvador da Pátria. 

Ai da estrela (contratada a peso de ouro) se não salvar a pátria todo domingo. Os clubes se afundam, pagando viagens de “olheiros” e agentes, luvas e salários milionários, mordomias, multas rescisórias, processos trabalhistas... Como viciados em drogas, estão sempre dispostos a gastar até o que não têm para experimentar aquela sensação que lhes faz falta.






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