quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

0684) Hitler e o Barba Azul (28.5.2005)



Ainda sobre a questão de Adolf Hitler: liberar demais pode ser um risco, mas proibir também não resolve. Vocês já leram a história do Barba Azul? O sujeito casa com uma mocinha e leva-a para morar no seu palácio. No primeiro dia, percorre o palácio com ela, mostrando tudo: jardins, salões, centenas de quartos. A certa altura ele se detém e mostra um quarto trancado. “Você pode entrar em todos os quartos, menos neste”, diz ele; “nunca chegue perto desta porta, em hipótese alguma!”. Dias depois ele faz uma viagem, e adivinhem qual é a primeira coisa que a mocinha acaba fazendo?...

Ninguém é “Hitler”, ninguém é “Gandhi”. Satanizar ou endeusar pessoas não é a melhor maneira de ensinar História aos nossos filhos. De nada adianta parar com eles diante de um quarto do palácio que tem uma suástica pintada na porta e dizer: “Você está proibido de ver o que tem aqui dentro!” É tiro e queda, meu amigo. Da próxima vez que você sair de casa para ver o filme de Michael Moore, seu garoto vai mergulhar na oratória do pintor-de-paredes.

Existem muitos jovens por aí que recusam, por convicções morais (não por “atitude roqueira”) toda a bandalheira que rola solta no País e no mundo. Jovens que vêem toda noite o Jornal Nacional denunciando mais uma falcatrua dos figurões da República, ou mais uma brutalidade dos imperialismos armados. Para esses jovens, “O Governo” é fonte de corrupção, militarismo, arbitrariedades, torturas, violência, injustiça social. Passei uns vinte anos da minha vida pensando isso dos Governos, e ainda hoje prefiro tratá-los a uma respeitosa distância. Algo neles é contagioso.

Vocês já leram entrevistas de rapazes neo-nazistas da Alemanha, dos EUA, do Brasil? Muitos são nazistas por pura maldade: “Queremos queimar judeus, queremos matar africanos, são todos sub-gente”. Esses aí são psicopatas mesmo. Mas muitos explicam: “O cara era foda... Ele sozinho enfrentou o mundo inteiro... A Alemanha estava lá embaixo, e ele levantou o país... Agora os poderosos fazem campanha contra ele, inventaram essa história de Holocausto... Ele queria era derrubar o capitalismo americano...” E assim por diante. Ou seja: criou-se uma unanimidade tão manipulada e tão obrigatória contra Hitler que um jovem desconfiado começa a achar essa história meio estranha.

Hitler era um excêntrico, um cara de grande carisma pessoal, capaz de arrebatar outras pessoas (ministros, generais, políticos) numa espécie de delírio coletivo na base do “É claro que vai dar certo!” que não é muito distante de alguns delírios menos malignos que tivemos aqui no Brasil, e basta dar como exemplos Jânio Quadros e Fernando Collor. Hoje, vocês (dirijo-me aos caros leitores que porventura tenham votado neles) sabem quem eram. Mas na hora, parecia que finalmente o Salvador da Pátria tinha aparecido, um homem de juízo, um homem honrado. E ainda vai acontecer de novo, quanto quer de aposta?

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