Perguntaram a Charles Baudelaire se ele se considerava um poeta de vanguarda e ele respondeu: “Não gosto de metáforas militares”.
Vanguarda é um conceito defeituoso porque nos induz a uma visualização errada da literatura. Vanguarda é aportuguesamento de “avant-garde”, “guarda avançada” ou “tropa avançada”, aquele pequeno grupo que vai à frente do restante do exército, embrenhando-se no território inimigo, descobrindo caminhos e correndo perigos que os que vêm lá atrás não correm. Ser de vanguarda, portanto, dá a idéia de ser mais audaz e mais corajoso, de não ter medo de correr riscos, e de estar conquistando hoje um território onde indivíduos mais prudentes só terão coragem de pisar muito tempo depois.
Quando se diz: “Fulano é a vanguarda da poesia brasileira de hoje”, a gente fica com a impressão de que a poesia brasileira é um grupo de gente indo numa direção, e que Fulano está centenas de metros à frente de todo mundo. Admiramos e invejamos Fulano pelo seu talento e pela sua coragem de partir na frente sozinho, descobrindo tudo por conta própria. E aí nos vem o maior erro de pensar em termos de vanguarda: achamos que o Poeta Vanguardista está mais adiantado do que nós em algum tipo de maratona, e que precisamos ultrapassá-lo. E a única maneira de ultrapassá-lo é fazer, mais ou melhor do que ele, aquilo que ele está fazendo.
Quando a crítica começou a considerar James Joyce a vanguarda do romance ocidental muita gente se sentiu na obrigação de passar à frente dele. E tentou fazer isto escrevendo romances que eram imitações ao-pé-da-letra dos romances de Joyce. Todo país ocidental hoje em dia tem esses romancistas, indivíduos que tentaram ser aquele escritor que, como diria Shakespeare, “out-joyces Joyce” – o cara que supera em joyceanismo o próprio Joyce.
Joyce fez um mergulho fundo na fusão entre voz e escrita, na colagem de diferentes discursos literários dentro de uma mesma obra, no mergulho nos arquétipos culturais de sua Irlanda natal, e assim por diante. Seu trabalho é monumental e impressionante, mas em hipótese alguma significa que a literatura inteira esteja indo neste rumo, com ele à frente. Cada literatura está indo em mil direções diferentes. Todo mundo está escrevendo livros diferentes, e neste sentido cada escritor só é vanguarda de si mesmo, ou talvez de um grupo de textos com os quais ele deliberadamente dialoga – a novela de detetive, a crônica urbana, o romance histórico, o conto psicológico...
Jovens, em geral, acham que precisam ser de vanguarda, porque sentem-se com a compreensível missão de trazer ao mundo o Novo, o Inédito, o Original. Só que a melhor maneira de conseguir isto não é tentando suplantar o que já está sendo feito, e bem, por Fulano ou Sicrano. Vanguarda é toda vez que um indivíduo descobre sua voz pessoal e uma comunidade literária descobre o quanto esta voz lhe fazia falta.
Vanguarda é um conceito defeituoso porque nos induz a uma visualização errada da literatura. Vanguarda é aportuguesamento de “avant-garde”, “guarda avançada” ou “tropa avançada”, aquele pequeno grupo que vai à frente do restante do exército, embrenhando-se no território inimigo, descobrindo caminhos e correndo perigos que os que vêm lá atrás não correm. Ser de vanguarda, portanto, dá a idéia de ser mais audaz e mais corajoso, de não ter medo de correr riscos, e de estar conquistando hoje um território onde indivíduos mais prudentes só terão coragem de pisar muito tempo depois.
Quando se diz: “Fulano é a vanguarda da poesia brasileira de hoje”, a gente fica com a impressão de que a poesia brasileira é um grupo de gente indo numa direção, e que Fulano está centenas de metros à frente de todo mundo. Admiramos e invejamos Fulano pelo seu talento e pela sua coragem de partir na frente sozinho, descobrindo tudo por conta própria. E aí nos vem o maior erro de pensar em termos de vanguarda: achamos que o Poeta Vanguardista está mais adiantado do que nós em algum tipo de maratona, e que precisamos ultrapassá-lo. E a única maneira de ultrapassá-lo é fazer, mais ou melhor do que ele, aquilo que ele está fazendo.
Quando a crítica começou a considerar James Joyce a vanguarda do romance ocidental muita gente se sentiu na obrigação de passar à frente dele. E tentou fazer isto escrevendo romances que eram imitações ao-pé-da-letra dos romances de Joyce. Todo país ocidental hoje em dia tem esses romancistas, indivíduos que tentaram ser aquele escritor que, como diria Shakespeare, “out-joyces Joyce” – o cara que supera em joyceanismo o próprio Joyce.
Joyce fez um mergulho fundo na fusão entre voz e escrita, na colagem de diferentes discursos literários dentro de uma mesma obra, no mergulho nos arquétipos culturais de sua Irlanda natal, e assim por diante. Seu trabalho é monumental e impressionante, mas em hipótese alguma significa que a literatura inteira esteja indo neste rumo, com ele à frente. Cada literatura está indo em mil direções diferentes. Todo mundo está escrevendo livros diferentes, e neste sentido cada escritor só é vanguarda de si mesmo, ou talvez de um grupo de textos com os quais ele deliberadamente dialoga – a novela de detetive, a crônica urbana, o romance histórico, o conto psicológico...
Jovens, em geral, acham que precisam ser de vanguarda, porque sentem-se com a compreensível missão de trazer ao mundo o Novo, o Inédito, o Original. Só que a melhor maneira de conseguir isto não é tentando suplantar o que já está sendo feito, e bem, por Fulano ou Sicrano. Vanguarda é toda vez que um indivíduo descobre sua voz pessoal e uma comunidade literária descobre o quanto esta voz lhe fazia falta.
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