Ele é o deus-pequenino das oficinas de roteiro, e tem uma fórmula mágica pra fazer um filme dar certo. Syd Field já veio ao Brasil trocentas vezes, e espalha pelo mundo sua mensagem com a fé e a euforia de quem descobriu o universo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Discordo da faceta engessadora e bitolada da sua teoria de que todo filme tem que ter três atos, todo ato precisa ser encerrado com uma cena de tal ou tal tipo (que ele chama “pinça”, “ponto de virada”, sei lá mais o que). Por que combato? A fórmula não funciona? Ah, funciona, sim. Para algum tipo de filme. Querer impor essa fórmula em todo filme é como se Leonardo da Vinci fosse dar aulas de pintura e dissesse: “Todo quadro tem que mostrar uma mulher sentada, com as mãos pousadas no colo, e sorrindo. São os três elementos básicos da pintura.”
Mas Field, é claro, dá muitos conselhos úteis. Alguns passam meio despercebidos. Por exemplo, em Como resolver problemas de
roteiro (Ed. Objetiva, 2002) ele diz: “A informação visual que recebemos é
cumulativa.” Ou seja: não temos que
mostrar tudo de uma vez só, mas tentar fazer com que cada plano mostre um
pedaço a mais da ação ou do ambiente.
Uma das coisas que a narrativa do cinema conquistou com grande esforço
foi a capacidade de ajudar o público a visualizar um complexo ambiente interno
(uma casa com muitos corredores, salas, etc.) com alguns poucos planos, de modo
a que o espectador perceba como estão em relação um ao outro.
Se a informação faz sentido para o público, é possível
encadear os planos numa certa relação: “eles passaram do terraço para o
salão... essa escadaria leva ao primeiro andar... esse terraço fica do outro
lado da casa, voltado para aquele pomar...”
Às vezes um plano parece desnecessário (uma pessoa sai de um quarto com
um candelabro, segue pelo corredor, vira à esquerda) mas ele mostra a que
distância e em que direção ficam os quartos de A, B ou C. O espectador tem que acompanhar os diálogos,
entender a história, conhecer os personagens, e também quer entender o espaço
onde a ação acontece.
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