quarta-feira, 4 de março de 2015

3753) Táxi com DVD ligado (5.3.2015)



É cada vez mais comum a gente entrar num táxi e ver que o motorista está dirigindo e assistindo TV ao mesmo tempo, numa televisãozinha acoplada ao painel, onde tanto pode estar rolando um noticiário quanto o DVD de uma dupla sertaneja.  

Em vez de implicar, e ficar pedindo que desligue aquilo (o que seria o procedimento mais ajuizado) eu prefiro dar uma de cientista e ficar analisando o comportamento do cara. “Não atrapalha não?”, pergunto. Eles dizem algo como: “Não, eu não fico olhando o tempo todo, só olho quando paro.”  Ou então: “Deixei ligado só pra saber das notícias.”  Eu: “Por que não deixa só o áudio, então?”  Ele: “Ah, porque certas notícias tem imagens que a gente quer ver, enquanto eu vou devagarinho eu dou uma espiada, ou deixo para espiar quando paro no sinal”.

Há um sistema que elimina a imagem quando o carro está em movimento.  Já peguei táxi com um DVD rolando, mas sem imagem: era um show, a música avançava normalmente, mas a tela estava preta, com um letreiro branco no meio.  Cada vez que o carro se imobilizava, a imagem reaparecia.  Quando o carro avançava de novo, a tela ficava preta.  Imagino que seja muito simples fazer esse sistema acoplado, que reduz um pouco o risco de acidentes.

Mas (pergunto) se dirigir falando ao celular pode resultar em multa, por que é permitido ao taxista dirigir assistindo jogo de futebol (pense numa coisa onde a olhadela é inevitável, na hora H!)?  Ou assistindo DVD de música, filme, o que seja?  O risco de acidente, por uma olhadinha rápida, não é o mesmo que o de falar ao celular?

A verdade é que a TV invade todos os espaços.  Vi uma entrevista de um europeu que veio ao Brasil e ficou escandalizado com o fato de que em todos os restaurantes em que entrou havia uma TV ligada, geralmente na programação da Globo. “Na Europa,” dizia ele, “vai-se ao restaurante para comer e para conversar.  Uma TV ligada num restaurante é uma invasão de um espaço de privacidade.”

Não é que o achamos aqui, não é mesmo?  Temos TV ligada em salas de espera, em consultórios, em rodoviárias, em lojas, em repartições, em qualquer espaço onde se pressupõe que um grupo de pessoas estará parada, esperando.  É preciso evitar que essas pessoas pensem, que fiquem entediadas, que fiquem sozinhas com elas mesmas.  É preciso massacrar programas, blá-blá-blá, filme de carro explodindo, futebol, talk show, não importa o quê.  

A televisão é a forma mais avançada de condicionamento mental, onde importa menos o que está sendo mostrado, e importa muito mais o que, através daquilo, está sendo mantido longe dos corações e mentes. Há muitas formas do Big Brother fazer-se amar, fazer-se obedecer.





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