sábado, 30 de agosto de 2014

3591) As listas do escritor (30.8.2014)


(ilustração: Hamish Hamilton websaite)

Já me aconteceu mais de uma vez. Tenho uma boa idéia para uma história, sento no teclado e começo a escrever. A certa altura surge uma frase tipo: “Depois de um dia inteiro de cavalgada, ao entardecer chegaram ao Castelo de...”  

E aí pronto. Como vai ser o nome do castelo?  Tem que ser um nome imponente, significativo... Começo a pensar, vou na janela, vou fazer um café, vou folhear livros de História Antiga, e o conto vai pro espaço, porque encalhei naquele ponto e estou ali até hoje.

Muitos escritores, para evitar essas indecisões, fazem listas. Listas de nomes de personagens, divididas por idade, classe social, país, época...  Listas de nomes de lugares: cidades, castelos, casas comerciais, tudo que tiver importância na história e tenha que ser mencionado mais cedo ou mais tarde.  E assim por diante.  

Fazer essas listas ajuda o autor a não perder o pique quando precisar citar um grupo de pessoas, por exemplo, mesmo que depois resolva que o personagem “Juliano” tem mais cara de se chamar “Tarcísio”. O importante é não quebrar o embalo narrativo só porque precisa matutar num detalhe.

Raymond Chandler fazia listas de tudo, e muitas estão reproduzidas em The Notebooks of Raymond Chandler (Ecco Press, 1976). Listas de títulos de histórias, de termos de gíria, de “wisecracks” (aquelas frases irônicas e demolidoras que ele usava nos diálogos), etc.  

Muitas acabam não sendo usadas, mas não há problema. O importante é que o autor fica com bala na agulha, para o momento em que precisar.

Damon Knight, em seu precioso manual Creating Short Fiction (St. Martins’s Press, 1997) sugere que o autor anote nomes próprios interessantes sempre que encontrar um, e vá montando uma lista variada.  Se um personagem é estrangeiro, diz ele, consulte numa enciclopédia o verbete sobre aquele país, mas não use os nomes dos personagens famosos e históricos. Melhor recorrer aos nomes das pessoas que prepararam o verbete, e que vêm no final, na bibliografia. (Um leitor brasileiro acharia estranho uma história norte-americana ambientada no Brasil onde os personagens, gente comum, se chamassem Kubitschek, Collor, Sarney, Roussef...)

Em último caso (sugere Knight) se um nome qualquer não lhe ocorrer na hora, e os nomes da lista não servirem, vale a pena guardar o lugar com um sinal gráfico qualquer e seguir em frente.  Ele sugere barras inclinadas, //.  Nos meus textos eu prefiro usar alguma coisa entre colchetes: [.....].  

“Nove vezes em dez,” diz ele, “um detalhe assim, que pode imobilizar você durante meia hora diante do teclado, será resolvido em um ou dois minutos na próxima vez que você estiver revisando o texto”.







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