Quando Raymond Chandler lançou o romance The Little Sister em 1946 um amigo questionou alguma coisa a respeito do título, e ele respondeu, por carta: “Meu título pode não ser muito bom. É somente o melhor a que eu pude chegar sem forçar muito. Minhas idéias a respeito de títulos são meio peculiares. Eles nunca devem ser provocativos de maneira óbvia, nem falar de assassinato. Devem ser bastante indiretos e neutros, mas o formato das palavras deve ser pouco usual. Não consegui isso, neste caso. No entanto, como já disse um grande dono de editora, título bom é o título de um livro de sucesso. Assim de improviso ninguém seria capaz de dizer que The Thin Man (O Homem Magro, de Dashiell Hammett) é um grande título. O Falcão Maltês é, sim, porque tem rima e tem ritmo, e obriga a mente a fazer perguntas”.
Veja-se como ele se preocupa com a busca de uma certa
sonoridade, refletida nessa rima interna “al-al” (“Maltese falcon”) no livro de
Hammett. O que Chandler não comenta, e
até hoje nunca o vi tocar nesse assunto, é a curiosa simetria de alguns dos
seus títulos, os que eu chamo “das dimensões”: The Big Sleep, The High Window,
The Little Sister, The Long Goodbye.
Grande, alto, pequeno, longo. Ele usou isto quase com certo abandono,
mas deixou claro que não era uma fórmula obrigatória, encaixando Farewell, my
Lovely, The Lady in the Lake e Playback.
Fórmula fixa mas rica em combinações: resquício da pulp
fiction. Os romances de Perry Mason,
que ele tanto elogiava, tinham fórmula fixa: O Caso do X...... X...... (palavras com a mesma inicial). Ellery
Queen tinha sua famosa série de romances “nacionais”: O Mistério do Ataúde Grego,
do Sapato Holandês, do Chapéu Romano, da Cruz Egípcia.... Cornell Woolrich tem dez ou doze livros com
a palavra “dark” ou “black” no título. A fórmula testada quatro vezes por
Chandler é mais sutil. Ela se assemelha
à da série de romances de John MacDonald em que cada título sugere uma cor.
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