Recomeçou
a série Game of Thrones pela HBO, movimentando um enorme fã-clube mundo
afora, inclusive no Brasil. Já me referi
à série em artigos anteriores (aqui: http://bit.ly/10fKNKO,
http://bit.ly/XRJr5Z, http://bit.ly/KHji6y, http://bit.ly/O5994l), e não custa nada
repassar alguns aspectos importantes dela.
O primeiro é o fato de que o mundo de Westeros, onde ela acontece, não tem relação visível com o nosso (Tolkien também era assim). A geografia, a história, a cultura de Westeros, tudo isso é criado a partir do zero pelo autor George R. R. Martin. Já é uma façanha fazer isso num romance; o que dizer de uma série de 5 romances (até agora), cada um deles variando entre 600 e 900 páginas?
Não é fácil sustentar uma história onde é preciso inventar todas as religiões, todas as genealogias, todos os países, e assim por diante, com dezenas de protagonistas e centenas de personagens importantes pertencendo a uma dúzia de culturas/nações diferentes.
O primeiro é o fato de que o mundo de Westeros, onde ela acontece, não tem relação visível com o nosso (Tolkien também era assim). A geografia, a história, a cultura de Westeros, tudo isso é criado a partir do zero pelo autor George R. R. Martin. Já é uma façanha fazer isso num romance; o que dizer de uma série de 5 romances (até agora), cada um deles variando entre 600 e 900 páginas?
Não é fácil sustentar uma história onde é preciso inventar todas as religiões, todas as genealogias, todos os países, e assim por diante, com dezenas de protagonistas e centenas de personagens importantes pertencendo a uma dúzia de culturas/nações diferentes.
Outra
coisa que seduz na série é a sua política, que, diferentemente de Tolkien –
cuja moralidade é estritamente medieval, maniqueísta, idealizada – tem um
cinismo e um realismo que a fazem tão moderna quanto qualquer luta pelo poder
em Brasília ou em Wall Street.
Na primeira temporada, a morte de Ned Stark anunciou que naquele mundo não há lugar para alguém que comete o pecado de ser ingênuo, de não ter traquejo político, e de não saber praticar “direção defensiva” no meio das raposas traiçoeiras da intriga palaciana. Stark era um personagem simpático mas ridiculamente fora de moda; sua inocência ética me lembrou o Rocco de Rocco e seus irmãos de Visconti. Um sujeito tão determinado em ser bom e honesto que destrói tudo que tentava defender.
O mundo se encaminha para um terreno ético em que o Bem não pode ser mais defendido pela pureza de coração. Estamos adentrando um mundo manipulado por enganadores, por gente maquiavélica, por serpentes que roubam por instinto e matam por reflexo. Só quem pode salvar o Bem é a Malandragem: a capacidade de ser mais malicioso do que o Mal, de combater o gelo com o fogo e o fogo com o gelo.
Na primeira temporada, a morte de Ned Stark anunciou que naquele mundo não há lugar para alguém que comete o pecado de ser ingênuo, de não ter traquejo político, e de não saber praticar “direção defensiva” no meio das raposas traiçoeiras da intriga palaciana. Stark era um personagem simpático mas ridiculamente fora de moda; sua inocência ética me lembrou o Rocco de Rocco e seus irmãos de Visconti. Um sujeito tão determinado em ser bom e honesto que destrói tudo que tentava defender.
O mundo se encaminha para um terreno ético em que o Bem não pode ser mais defendido pela pureza de coração. Estamos adentrando um mundo manipulado por enganadores, por gente maquiavélica, por serpentes que roubam por instinto e matam por reflexo. Só quem pode salvar o Bem é a Malandragem: a capacidade de ser mais malicioso do que o Mal, de combater o gelo com o fogo e o fogo com o gelo.
Excelentes diálogos, atores incisivos e intensos, cortes nos momentos precisos; a narrativa de Game of Thrones, onde uma temporada tem dez episódios de menos de uma hora cada, poderia dar lições de compactação narrativa a muitos filmes de hora-e-meia que passam por aí.
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